domingo, 3 de outubro de 2021

O Poeta Enquanto Coisa

 


 obscuro objeto do desejo

 

de pedra dourada ficaram portas janelas de entradas e saídas a sedução de dois olhos em minha carne proibida nem tanto pelo o que falo nem tanto pelo que sinto a vodka a cereja o conhac o abismo  o labirinto

 

de pedra dourada ficou um café orgânico no teu sertão encantada numa manhã de domingo do outro lado da trilha com tanta veracidade que me esqueci da idade e me apaixonei por tua filha

 

de pedra dourada ficaram olhos acesos do outro lado a janela o espelho as contas de vidro o jogo da sedução a maravilha os passeios nas cachoeiras
os banhos de bar o carnaval aquela delícia louca o batom na minha língua o cheiro das flores do mal
meu bem-me-quer na tua boca


tragédia infame

 

empresto minha voz aos deserdados os desnutridos os que não tem pela manhã café com pão e sobre a mesa no almoço nem mesmo a mesa e essa pergunta pra resposta que não vinha  nem bolinho de chuva nem broa de milho nem carne seca com farinha

espinha de peixe na garganta é o que sobrou pra curuminha - empresto meu corpo minha voz  a esses personagens os que tem sede  os que tem  fome ou que morrem assassinados nos guetos  nos campos nas cidades por balas de canhão rajadas de fuzil

estás fudido  brasil entregue as traças então me resta exterminar o nome o sobrenome o apelido do causador dessa desgraça

                                              Federico Baudelaire

Mestre Sala da Mocidade Independente de Padre Olivácio  - A Escola de Samba Oculta no InConsciente Coletivo – Bispo da Igreja Universal do Reino de Zeus  

                                    

ancestral

 

há muito tempo não recebo

cartas de ninguém

mas não rezo padre nossos

simplesmente para dizer amém

 

já fui católico rezei terços ladainhas

acompanhei a procissão dos afogados

na Tapera

para soletrar a palavra Cacomanga

e entender que o barro da cerâmica

trago grudado na minha íris retina

 

meu batismo de fogo

 foi numa Santa Cecília

entre víboras e serpentes

 

mordi a hóstia do padre

sua saia preta me levou ao pânico

de sonhar com  juízes

e hoje saber o que são

 

minha África

são os olhos negros

de Madame Satã

na língua tenho uma sede felina

na carne essa  fome pagã

sou um homem comum

filho de Ogum com Iansã

 

língua

 

minha língua é safada nua e crua não gasta palavra a toa não canta palavra gasta nem é fado de Lisboa

é blues rasgado pedra de toque samba rock plug ligado no navio ou na canoa bebe do Rio e de Sampa nos demônios da garoa

fio desencapado tensão eletricidade tesão canibalidade na voracidade da Pessoa 


mamãe coragem                           

 

numa canção do Lenine o peixe está na rede o mar está com sede o rio agora chora onde esta cidade pedra veracidade medra eu te esfinjo drama

 

onde a ferocidade Fedra eu te desejo deda eu te devoro dama

 

pensando a trama Torquato eu disse mamãe coragem
a vida é sagaranagem na elegia da hora  fulinaíma é viagem te levo na minha bagagem não chora mamãe não chora

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