sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

múltiplas poéticas

hoje vou comer
a coxinha da paulista
vou comer fiado
vou comer de graça
coxinha só se paga a prazo
a perder de vista
na pia no banheiro
no telhado na cozinha
coxinha se come aos montes
nas ruas nas praças
nos palácios nas garagens
coxinha é massa
de manobra
amassada com trigo com farinha
carne que se presta
pra usar comer e jogar na lata de lixo
coxinha não é gente
é pior que bixo

Gigi Mocidde

www.suorecio.blogspot.com


HOJE é o aniversário desse amigo muito querido.
Artur me enche de orgulho pela sua arte sem limites, pela sua simplicidade, pelo seu talento "sobrenatural". HOJE completa sete décadas de puro amor a tudo o que faz.


Trabalhamos juntos no IFF por longo tempo e como aprendi com suas exaltações poéticas, suas apimentadas colocações nos textos.

Artur Gomes , dentre suas performances, há de se destacar um susto que deu aos participantes de um curso de Controle Mental, na época, no Palácio da Cultura. Num exemplo de brasilidade enrolou a Bandeira Nacional no corpo e com um timbre de voz alto lançava ao vivo e em cores, um poema de tamanha beleza, profético para o Brasil que estamos vivenciando agora.

Artur é temático em seus gestos e dono de um olhar imperativo. Colhe da Rosa ao néctar do prazer, toda uma poesia que marca, que seduz e que alucina. " Artur Gomes, nada sabe de mim." Viva Mallarmé! Beijos pra você, meu amigo!

 

Vania Cruz – 27 agosto 2018


domingo, 12 de fevereiro de 2023

múltiplas poéticas


anti/lírica


um poema bashô aqui
nas 7 paredes do corpo
nos 4 cantos da casa
instigante satírico sarcástico
e ao mesmo tempo
esse ácido lirismo
é como um anjo
de belas brancas asas

que me toma arrasta domina arrasa

Gigi Mocidade

www.fulinaimargem.blogspot.com



2016 - O Golpe


não me assusta
não me espanta
o assalto do golpista
contra o povo

tudo velho
nada de novo
não me iludo
não me engano

essa é a norma DEMOcrática no BraZil de governar para o patrão americano

Artur Gomes

www.fulinaimagens.blogspot.com



Tempero


é preciso socar certas palavras
com sal pimenta & alho
para dar o gosto.
o ardido
que se traz na boca
é tempero mal cuidado.

é preciso cortar o mofo
das ações de certas palavras
para quando for poema
ter ação presente
penetrar a carne
e ter sabor de gente.

Artur Gomes
do livro Suor & Cio

www.suorecio.blogspot.com



feminina


fosse apenas flor da pele
nessa flor tão feminina
me afoga me naufraga
me engole pelo estômago
nesse mar entre teus pelos
nessa pedra entre teus poros
nesse vento entre os cabelos



                              Gigi Mocidade

 

o sonho rola no parque



o sonho rola no parque
o sangue ralo no tanque
nada a ver com tipo dark
e muito menos com punk
meu vício letal é baiafro
com ódio mortal de yank

Artur Gomes
in Couro Cru & Carne Viva – 1987

www.fulinaimagens.blogspot.com

camões/lampião



Camões/Lampião

1.
camões ao habitar-se
no olho cego
sentia-se íntimo,
mais interno
que o habitar-se
no olho aberto.

2.
lampião ao habitar-se
nos dois olhos
a eles dividia:
o olho aberto matava
e o outro se arrependia.

3.
camões ao habitar-se
no olho cego
polia as palavras
e usava-as absorto
como se apalpasse
e possuísse o próprio corpo.

4.
lampião ao habitar-se
no olho cego
chorava os mortos
do seu interno,
mas o olho aberto
era casto
e via no matar
um gesto beato.

5.
camões ao habitar-se
no olho aberto
via-se todo ao inverso,
(pelo lado de fora),
mas rápido se devolvia
e fechava o olho aberto
pra ser total a miopia.

6.
lampião ao habitar-se
no olho murcho
via o olho aberto
estrábico e rústico
e compreendia
o olho aberto
mais murcho
que o olho cego.

7.
camões ao habitar-se
no olho murcho
via o mundo claro
dentro do escuro
e o olho aberto
era inútil
ao habitar-se
no olho murcho.

8.
lampião
atrás dos óculos
sentia-se acrescido, somado
e era mais lampião
naqueles óculos de aro.

9.
os óculos
lhes eram binóculos
íntimos sobre a miopia
e quando os óculos tirava
lampião se decrescia:
o olho cego somava
e o aberto diminuía.

10.
camões molhava a pena
como se no tinteiro
molhasse o olho cego
e tateando, cuidadoso
saía do seu interno.

11.
(no tinteiro as palavras
em forma líquida
juntam-se uma a uma
à retina, à pupila.)

12.
camões
escrevia com o olho cego
por senti-lo mais seu
que o olho aberto
e por poder o olho cego
infiltrar-se, ir mais dentro
e externar o seu inverso.

Sérgio De Castro Pinto

vencedor do II FestCampos de Poesia Falada, - 2000

https://fulinaimacentrodearte.blogspot.com/

traduzir-se



TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

Ferreira Gullar

https://fulinaimacentrodearte.blogspot.com/

juras secretas




poÉtika

eu sou drummundo
e me confundo na matéria amorosa
posso estar na fina flor da juventude
ou atitude de uma rima primorosa

e até na pele/pedra quando me invoco
e me desbundo baratino
e então provoco umbarafundo Cabralino

e meto letra no meu verso
estando prosa
e vou pro fundo
do mais fundo
o mais profundo
mineral Guimarães Rosa

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux  -2018

www.secretasjuras.blogspot.com

 

toda nudez não será castigada



Toda Nudez Não Será Castigada

estou nua em pelo
disfarçando o pesadelo
para olhar do alto
o palácio do planalto
e seus vampirões metralhas

minha língua é faca
não é palha
é palavra pronta
pra cortar a carne
como fio de navalha
onde houver canalha
toco fogo dentro

Gigi Mocidade

www.fulinaimicamente.blogpot.com

imoral brasilidade

 

não tenho certeza que isto é um país. ando por Recife entre pedras como quem vomita um planalto dentro do palácio. grafito a porra no muro. tenho vontade de explodir este barril de pólvora. esta é a palavra que não basta. eu trovoada relâmpago ventania temporal elevada a múltipla potencialidade da miséria quântica dessa imoral brasilidade.

Federika Lispector
imagem: José César Castro

dossiê de odessa

 

dossiê de odessa


eu não sou dessas
que mim mesma fala
odara linda me beijou a boca
amara louca me mordeu a língua
e quase me engoliu
no sofá da sala

eu quero


 

eu quero o meu amor

quente e lascivo
eu vivo para o vapor
barato
o maior pecado
é não querer - eu quero
o meu amor no dia D
no todo Dia
por toda noite
toda manhã
por toda tarde
só eu sei o quanto arde
em meu umbigo
não ter o meu amor aqui comigo

sábado, 11 de fevereiro de 2023

caderno de viagem 2



caderno de viagem 2

sempre pensei o inferno
fosse uma ferida aberta
no meu olho esquerdo
a boca do diabo e o seu escarro

agora olho e vejo
que não existe inferno além da vida
inferno é muito mais que uma ferida
na estação da morte em Puerto Cavajarro

Artur Gomes Fulinaíma

https://braziliricapereira.blogspot.com/

incorporação

incorporação para Igor Fagundes esse poema bárbaro com fonema brazilírico vai fazer meu aramaico incorporar o seu delírico palavras ...