domingo, 3 de outubro de 2021

Deus Não Joga Dados

    


 

 entre dentes

entre  línguas

a saliva entre os olhos

                            a bala

                            na pandemia

mais um morto estendido na vala

enquanto o genocida -

com sua ira assassina

cala

e mata com cloroquina

 

 

                                                           A vida

sempre em  suspense

alegria prova dos nove

fanatismo nã0 me convence

muito menos me comove

 

Artur Gomes Fuliaíma 


olho de lince

para Tchello d´Barros

onde engendro
a Sagarana

invento
a Sagaranagem

entre a vertigem
e a voragem


na palavra
de origem

entre a língua
e a miragem

São Bernardo e Diadema


mordendo: o vírus da linguagem
no olho de lince do poema


Navegar é preciso

para Fernando Aguiar


Aqui

redes em pânico

pescam esqueletos no mar

esquadras  descobrimento

espinhas de peixe convento

cabrálias esperas relento

escamas secas no prato

e um cheiro podre no AR

caranguejos explodem

mangues em pólvora

 

é surreal a nossa realidade

tubarões famintos devoram cadáveres

em nossa sala de jantar

 

como levar o   barco

em meio a essa tempestade

navegar é preciso

mas está dificilíssimo navegar 


Deus não joga dados

mas a gente lança

sem nem mesmo saber

se alcança

o número que se quer

 

mas como me disse mallarmè

:

- vida não é lance de dedos 

A vida é lança de dardos

Deus não arde no fogo

                   mas eu ardo

 

                                                      EuGênio Mallarmè 


no país

da pandemônia

 

se é corrupto branco rico

e fez parte de algum golpe

de estado

o mandato é de prisão

se é negro pobre favelado

o mandato é execução 


poema a(r)mado

 

todo os dias

capino a esperança

escavando outras palavras

no chão desse quintal

 

e quando escrevo com enxada

                   o poema é mais real

 

 cacomanga

 

na roça desde cedo comecei a escavar palavras e separar uma das outras de acordo com o seu significado dar farelo de milho para os porcos e olhadura de cana para o gado aprendi que no terreiro não dependo de mercado e para que urbanidade se a cidade não tem paz com a enxada capinei a liberdade e descobri que ditadura        é uma palavra que não cabe nunca mais

 

das veredas do silêncio

as vielas dos escombros 

não sei mais por onde ando

nesse país     esgoto

esgotada todas as possibilidades

da fala escrevo

dando descarga na privada

da latrina pública

no banheiro do palácio do planalto

 

Pastor de Andrade 


quando escrevo e eu mesmo não entendo o significado de uma determinada metáfora lanço a maldita no vento invento outra e vou ao centro do universo e xingo teu nome garrutio lamparão de bico kabrunco de poema           que não me dá sossego

 

Federika Lispector 


testamento

 

a tesoura rasga o tecido da carne

enquanto sangra

no processo cirúrgico do poema

corta de cada palavra a sílaba

que não presta

de cada frase a palavra

de cada sílaba a letra morfa

e o poeta vai vivendo no que resta

 

fulinaíma sax blues poesia

 

                     ela era Bruna

em noite de blues rasgado

soltou a voz feito Joplin

num canto desesperado

por ser primeiro de abril

aquele dia marcado

a voz rasgou a garganta

da santa loucura santa

com tanta força no canto

que até hoje me lembro

daquela musa na sala

com tua boca do inferno

beijando meus dentes na fala

 

obs.: esse poema foi escrito  em noite de Fulinaíma Sax Blues Poesia, no dia 1º de Abril de 2015 – 50 anos do Golpe Militar de 1964, performance realizada no Bar e Restaurante Dona Baronesa, em Campos dos Goytacazes-RJ, com Artur Gomes, Reubes Pess, Dalton Freire e Bruna Tinoco.

 

No universo paralelo

Tenho doutorado  Bíblico

Em chá de cogumelo

 

                    Federico Baudelaire

 

 

 

Pássaros Elétricos

Vivem a vida por um fio

 

                                                 Federika Bezerra 


 Deus não joga Dados

              Mais eu lanço

 

EuGênio Mallarmè 

                                   

                                       Dê livros

                                       Dê Beijos

                                       Dê Lírios

                                  

                                                   Gigi Mocidade


pan(demônica)

para Salgado Maranhão

inspirado no seu poema Pá

 

passeio os pés descalços

sobre covas rasas

contando ossos no poema exposto

no sujeito do objeto

 

tudo isso exposto

nesse papo reto

segue o passo norte

 

não leio cartas de suicídio

nem decreto de hospício

na tentação que me conforte

 

quero matar o genocídio

pra não morrer antes da morte 


metáfora

 

meta dentro meta fora
que a meta desse trem agora
é seta nesse tempo duro
            meta palavra reta
para abrir qualquer trincheira
            na carne seca do futuro 
            meta dentro dessa meta
a chama da lamparina 
com facho de fogo na retina 
pra clarear o fosso escuro

                                                         

Quem

cada poeta tem a sua pessoal linguagem vertigem voltagem espanto. alguns tem até desmaios. uns escrevem outros cantam outras falam. conheci um que me dizia ouvir vozes não só apenas Ferreira Gullar. uma outra queria ter meu fogo. uma outra é a mulher que só em sonhos sabe o quanto bem-me-quer. outra se assanhava diante do espelho. alguns são mágicos como uns que brincam com o sal do maranhão. outros são flechas certeiras atiradas em nosso peito. dois que conheci dando os primeiros passos um pensava na fábrica o outro em Regis Bonvicino, hoje um corsário o outro cult. nem sei porque estou escrevendo isso. é que ontem conversando com um por telefone descobri mais um montão de particularidades sobre ele. conheci um também grande mestre e amigo que só queria saber de escritemas e gostava de ensinar curto circuitos. agora esse é Quem e chegou ontem em Campos na casa da minha irmã depois de 2 meses postado nos correios em São Paulo. me lembro agora dos passeios com Flora na praça General Osório em Ipanema que encontrava sempre um que me dizia ter um poema escrito só com a palavra Bunda mas que só permitiria ser publicado depois da sua morte e gostava de afirmar também que prefácio não é bengala. eu sou um Homem Com A Flor Na Boca, de cactos, de lótus, de lírios que me trazem conteúdo. e baudelérico baudelírico despetalo pétala por pétala com espinhos com talo com tudo.

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