domingo, 3 de outubro de 2021

enigmas metafóricos

     


                                enigma número 2

 

arde em minha mãos teus poros

minhas unhas ainda queimam

dentro o sal das tuas águas

 

outubro era quase um mar folhas

no coliseu dos emigrantes italianos

e o vinho temperava nossas línguas

                    ao degustar a santa ceia

 

Clarice trigo do pão em minha boca

fermento de Zeus em nossa carne

no vale do Olimpo onde gozamos

os fachos de fogo em nossas veias

em tudo do amor que experimentamos

quando na mesa nos fartamos santa ceia

 

 cato caco nos azuis

 

cato cacos de vidros  nos azuis        lâminas  de fogo nesse olho d'água  algas de pedras nesse tempo ostras antes das horas que o dia tarda e os tiranos cessem seu torpor maligno

cato caco de vidros nessa areia carma  e provo o sal o sangue o sexo a saliva o cio dessas horas tontas são tantas horas perdidas outras desencontradas  na areia da praia no rabo da arraia na ponta da lua branca nas espumas nos espermas que não fizeram filhos nas pernas nas coxas no litoral dos ânus

essas horas que já se perderam nos currais do pasto de algum gentio  pássaros elétricos que se ejacularam queimando as penas nas tensões dos fios  nos geradores desse  Zeus me livre onde netuno não aporta mais  os      seus navios

 

 com as unhas

entranhadas em tuas coxas

 

                                 escrevo como quem

cata estrelas do mar na areia da praia

como quem come o rabo da arraia

                  montado no cavalo marinho

 

lambendo escamas de sereia

com os dentes cravados na memória

e as unhas entranhadas em tuas veias

          na espuma branca de um pergaminho

 

 psic/analítica

 

não durmo. sonho.  Dédala passeia em minha cama
sob os meus lençóis de lã toda palavra sã me despe desejo pelos poros pelos  nossos corpos separados apenas pela penugem do tecido quase dentro como Joice me trazendo Dédalus  para o travesseiro eu te desejo como tudo que seja carne nervos músculos ossos

 

ela foge quando toco fogo paixão fome sede tesão sexo acho até complexo ela gostar de conversar
mas não sentir ou não querer ficar olhando da janela

do seu olho gótico como quem analisa feito dadaísta nem fiado nem a vista porque  não pode se envolver 


vertigem 12

 

o barro do valão
que meus pés pisaram
impregnou o sangue
transpirou nos poros

 

o limo embaixo das unhas
lembra-me o lugar de onde vim
cacomanga me re-inventei Diadorim

 

não tracei a linha reta
já nasci um anjo torto

nada em mim se concreta

no meu sonho - desconforto

 

tudo em mim é impossível
até mesmo imprevisível
muito mais que inalcansável

 

não gosto de automóvel
muito menos televisão

cresci por dentro do mato
conheci olho de cobra
pulo felino de gato
         dentes afiados de cão

 

 

 Delírica

 

da janela  vou olhando o trilho de ferro

do vagão barato o brasil do globo   fica

lá distante em brazilírica   lá no meio do

mato.           a carne bela não viaja aqui

nem mora por perto da estação da  luz

aqui tem merda carne de terceira   lixo

de primeira   pele        podre             pus 


nunkrEreção

 

nada nasceria naquela nação     naturalmente

naquela noite natimorta  nadavera     naverouca

nenhuma nave nenhuma louca nenhuma nara

não nasceria naquele norte     nortistatamente

nem novidade naquele nojo    nenhuma pouca

naquela nuvem naquele nível      naquele nada

nunkrEreção  nunkrerefalo         nunkrerequero

nordestamente nada nasceria        naquele clero

nem mesmo apolo numdionísio nem   mesmonero

nenhuma ninfa nunkrerenunca naquele    narda

nenhuma nívea nenhuma névoa nenhuma násia

nunca seria nascer de novo nem         pedro nava

naquele númem naquele nome naquela   amásia

nem nulidade nunkreretanto nenhuma      náusea

não nasceria       naquela nação       naturalmente

nenhum nativo naquela noite do    homem farda

nenhum negroide -  negróide nunca negroide nada

 

                                      faca uilcônica mortal

 

estanco o cavalo do sonho

no teu quartel do princípio

papel cortado na resma

 

a mula pasta acordada

a besta pulsa assombradada

    no visgo quente da lesma 

  

 trincheira

 

há uma gota de sangue

entre meus olhos

                      e os teus

 

e muitas velas acesas

pra salvar a nossa carne

e bocas cheias de dentes

mastigando a nossa morte

 

mas eles é que  morrerão

meu amor : num grande susto

        quando nus virem

amando nessa cama

         de ferro e de pau duro

  

Dédalus

para Alberto Bresciani

e o seu magnífico Hidroavião

 

O poeta

pesca peixes

na floresta de concreto

lâminas de cimento

 

há séculos

não está pra peixe

este mar

 

aqui redes em pânico

pescam esqueletos no ar

 

linhas de naylon

degolam tartarugas

que morrem náufragas

na Av. atlântica

 

o poeta cata os cacos

que restaram desta pátria desossada                 


dentro da noite veloz

 

... e se fosse não apenas o que eu quisesse ela também fosse o silêncio da fala a espera de uma  outra palavra que ainda não dissemos nos vazios de nossas bocas quando a língua se esconde antes da cena acontecer.  e se fôssemos como  dois perdidos numa noite suja procurando a lamparina para dar a luz dentro dessa noite veloz até que exploda uma vertigem no  dia ?


poética

 

essa espessa nuvem de fumaça arregaça  meus intestinos me provoca esse estado de  não sei quantas

adrenalinas essa besta no cio esse desatino e o destino do menino esse veneno em cada grão de soja

em cada grão de milho em cada folha de alface

essa face carcomida antes dos trinta  e eu aqui pensando a quantas anda os projetos do meu filho

 

incorporação

para Igor Fagundes

 

esse poema bárbaro

com fonema brazilírico

vai fazer meu aramaico

incorporar o seu delírico

 

palavras que incorporo

dança vento movimento

folhas verdes no algodão

 

fulinaíma dançarino

sertão moleque esse menino

do frevo xaxado xote blues rasgado baião


                              

mallarmargens

 

esse poema desliza  pelo lado esquerdo do Rio entre Mallarmè e às Margens por de traz da Lapa no cio e o carioca em meu  desvario aposta um  lance  de dados que o prefeito  o mal l a(r)mado abandona sua carreira foge do povo em mal estado em plena segunda-feira Cristo desce o corcovado em lance descomunal e na Sapucaí a Mangueira explode no carnaval

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