enigma número 2
arde em minha mãos teus poros
minhas unhas ainda queimam
dentro o sal das tuas águas
outubro era quase um mar folhas
no coliseu dos emigrantes italianos
e o vinho temperava nossas línguas
ao
degustar a santa ceia
Clarice trigo do pão em minha boca
fermento de Zeus em nossa carne
no vale do Olimpo onde gozamos
os fachos de fogo em nossas veias
em tudo do amor que experimentamos
quando na mesa nos fartamos santa ceia
cato cacos de vidros nos azuis lâminas de fogo nesse olho d'água algas de pedras nesse tempo ostras antes das
horas que o dia tarda e os tiranos cessem seu torpor maligno
cato caco de vidros nessa areia
carma e provo o sal o sangue o sexo a
saliva o cio dessas horas tontas são tantas horas perdidas outras
desencontradas na areia da praia no rabo
da arraia na ponta da lua branca nas espumas nos espermas que não fizeram filhos
nas pernas nas coxas no litoral dos ânus
essas horas que já se perderam nos
currais do pasto de algum gentio pássaros
elétricos que se ejacularam queimando as penas nas tensões dos fios nos geradores desse Zeus me livre onde netuno não aporta mais os seus navios
entranhadas
em tuas coxas
escrevo como
quem
cata estrelas do mar na areia da praia
como quem come o rabo da arraia
montado
no cavalo marinho
lambendo escamas de sereia
com os dentes cravados na memória
e as unhas entranhadas em tuas veias
na espuma
branca de um pergaminho
do seu olho gótico como quem analisa feito dadaísta nem fiado nem a vista porque não pode se envolver
vertigem 12
o
barro do valão
que meus pés pisaram
impregnou o sangue
transpirou nos poros
o
limo embaixo das unhas
lembra-me o lugar de onde vim
cacomanga me re-inventei Diadorim
não
tracei a linha reta
já nasci um anjo torto
nada
em mim se concreta
no
meu sonho - desconforto
tudo
em mim é impossível
até mesmo imprevisível
muito mais que inalcansável
não
gosto de automóvel
muito menos televisão
cresci
por dentro do mato
conheci olho de cobra
pulo felino de gato
dentes afiados de cão
Delírica
da janela vou olhando o
trilho de ferro
do vagão barato o brasil do globo fica
lá distante em brazilírica
lá no meio do
mato. a carne
bela não viaja aqui
nem mora por perto da estação da luz
aqui tem merda carne de terceira lixo
de primeira pele podre pus
nunkrEreção
nada nasceria naquela nação
naturalmente
naquela noite natimorta
nadavera naverouca
nenhuma nave nenhuma louca nenhuma nara
não nasceria naquele norte
nortistatamente
nem novidade naquele nojo
nenhuma pouca
naquela nuvem naquele nível naquele nada
nunkrEreção
nunkrerefalo nunkrerequero
nordestamente nada nasceria naquele clero
nem mesmo apolo numdionísio nem mesmonero
nenhuma ninfa nunkrerenunca naquele narda
nenhuma nívea nenhuma névoa nenhuma násia
nunca seria nascer de novo nem pedro nava
naquele númem naquele nome naquela amásia
nem nulidade nunkreretanto nenhuma náusea
não nasceria
naquela nação naturalmente
nenhum nativo naquela noite do homem farda
nenhum negroide - negróide nunca negroide nada
faca uilcônica mortal
estanco o cavalo do sonho
no teu quartel do princípio
papel cortado na resma
a mula pasta acordada
a besta pulsa assombradada
no visgo quente da
lesma
trincheira
há uma gota de sangue
entre meus olhos
e os teus
e muitas velas acesas
pra salvar a nossa carne
e bocas cheias de dentes
mastigando a nossa morte
mas eles é que morrerão
meu amor : num grande susto
quando nus virem
amando nessa cama
de ferro e de pau duro
Dédalus
para Alberto Bresciani
e o seu magnífico Hidroavião
O poeta
pesca peixes
na floresta de concreto
lâminas de cimento
há séculos
não está pra peixe
este mar
aqui redes em pânico
pescam esqueletos no ar
linhas de naylon
degolam tartarugas
que morrem náufragas
na Av. atlântica
o poeta cata os cacos
que restaram desta pátria desossada
dentro da noite veloz
... e se fosse não apenas o que eu quisesse ela também fosse o
silêncio da fala a espera de uma outra
palavra que ainda não dissemos nos vazios de nossas bocas quando a língua se
esconde antes da cena acontecer. e se fôssemos
como dois perdidos numa noite suja
procurando a lamparina para dar a luz dentro dessa noite veloz até que exploda uma
vertigem no dia ?
poética
essa espessa nuvem de fumaça arregaça meus intestinos me provoca esse estado de não sei quantas
adrenalinas essa besta no cio esse desatino e o destino do
menino esse veneno em cada grão de soja
em cada grão de milho em cada folha de alface
essa face carcomida antes dos trinta e eu aqui pensando a quantas anda os projetos
do meu filho
incorporação
para Igor Fagundes
esse poema bárbaro
com fonema brazilírico
vai fazer meu aramaico
incorporar o seu delírico
palavras que incorporo
dança vento movimento
folhas verdes no algodão
fulinaíma dançarino
sertão moleque esse menino
do frevo xaxado xote blues rasgado baião
mallarmargens
esse poema desliza pelo
lado esquerdo do Rio entre Mallarmè e às Margens por de traz da Lapa no cio e o
carioca em meu desvario aposta um lance
de dados que o prefeito o mal l
a(r)mado abandona sua carreira foge do povo em mal estado em plena segunda-feira
Cristo desce o corcovado em lance descomunal e na Sapucaí a Mangueira explode
no carnaval
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