domingo, 3 de outubro de 2021

adonirando blues

 


 catando cacos de cogumelos azuis

procurava apagar os rabiscos de giz nos azulejos enquanto ouvia Edvaldo Santana Adonirando um blues vivi-ane preparava um chá de cogumelos azuis para depois do almoço que havíamos encontrado nas trilhas para são tomé das letras em outras histórias de minas fragmentadas com pimenta azeite e alho num caldeirão mágico incandescente a voz ultrapassava os corredores e entrava na cozinha como uma ladainha em cortejo de fulia de reis com aqueles palhaços com máscaras de bode no rosto imaginava a procissão em romaria era tudo real o chá ainda estava sendo preparado mas os efeitos já surgiam como se o líquido já tivesse sido ingerido ouvi uma das vozes da procissão me pedindo um gole depois de tomá-lo ela toda de azul vermelho dançou com muito mais volúpia e em um  passo de mágica todos os outros elementos da fulia começaram um ritual fulinaímico se lançando para o alto como se fossem fogos de artifícios ninguém provou do chá mas quando a dança terminou não havia mais um gole dentro do caldeirão vivi-ane quase teve um troço ao ver o utensílio vazio.

 

  bandeira nacional

 

com palavras sons imagens  versos inauguro o monumento no pandemônico  da central

araçá azul domingo no parque vapor barato mal secreto pérola negra construção cabeça poema concreto

arte poesia teatro  cinema pós poema terra em transe

tropicália grande sertão veredas vidas secas memórias do cárcere

parangolés hélio oiticica artur bispo do rosário

bacurau seja herói seja marginal           


                                biPoética

 

sou comunista

profano umbandista

               meu amor

 

sou o aço da espada de Ogum

a faca de ferro de Exu

água doce de Oxum

espuma de sal de Yemanjá

raio tempestade de Yansã

a flecha de Oxossi caçador

 

 

meus deuses são

gregos africanos

são irônicos são humanos

                        sim senhor

 

meu corpo é do batuque

nos terreiros da justiça

minha pedra de toque

       e a pedra de Xangô


               cabaré brazilírico

 

nesse país

das merdavilhas

podres poderes são formados

                    pelos canalhas das quadrilhas

 

a quadrilha oficial

tem tentáculos espalhados

por todo território nacional

 

o circo está na lona

quero ver quem vai ser

o palhaço dessa zona

 

15 de novembro estou na praça

porque vai ter marmelada

no cabaré da pátria a(r)mada

 

cacos de cogumelos azuis

 

alguns nomes nesta cidade me provocam desconcertam meus neurônios carrapato imburi macuco muritiba uriticum lagoa dos paus  sossego a vida aqui vive enrolada em seus novelos São Francisco é tão pacata mais pacata que Arcozelo quando acordada não anda quando dorme é pesadelo

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