procurava apagar os rabiscos de giz nos azulejos enquanto ouvia Edvaldo Santana Adonirando um blues vivi-ane preparava um chá de cogumelos
azuis para depois do almoço que havíamos encontrado nas trilhas para são tomé
das letras em outras histórias de minas fragmentadas com pimenta azeite e alho
num caldeirão mágico incandescente a voz ultrapassava os corredores e entrava
na cozinha como uma ladainha em cortejo de fulia de reis com aqueles palhaços
com máscaras de bode no rosto imaginava a procissão em romaria era tudo real o
chá ainda estava sendo preparado mas os efeitos já surgiam como se o líquido já
tivesse sido ingerido ouvi uma das vozes da procissão me pedindo um gole depois
de tomá-lo ela toda de azul vermelho dançou com muito mais volúpia e em um passo de mágica todos os outros elementos da
fulia começaram um ritual fulinaímico se lançando para o alto como se fossem
fogos de artifícios ninguém provou do chá mas quando a dança terminou não havia
mais um gole dentro do caldeirão vivi-ane quase teve um troço ao ver o
utensílio vazio.
bandeira nacional
com palavras sons imagens versos inauguro o monumento no pandemônico da central
araçá azul domingo no parque vapor barato mal secreto pérola
negra construção cabeça poema concreto
arte poesia teatro cinema
pós poema terra em transe
tropicália grande sertão veredas vidas secas memórias do
cárcere
parangolés hélio oiticica artur bispo do rosário
bacurau seja herói seja marginal
biPoética
sou comunista
profano umbandista
meu amor
sou o aço da espada de Ogum
a faca de ferro de Exu
água doce de Oxum
espuma de sal de Yemanjá
raio tempestade de Yansã
a flecha de Oxossi caçador
meus deuses são
gregos africanos
são irônicos são humanos
sim senhor
meu corpo é do batuque
nos terreiros da justiça
minha pedra de toque
e a pedra de
Xangô
cabaré brazilírico
nesse país
das merdavilhas
podres poderes são formados
pelos canalhas das quadrilhas
a quadrilha oficial
tem tentáculos espalhados
por todo território nacional
o circo está na lona
quero ver quem vai ser
o palhaço dessa zona
15 de novembro estou na praça
porque vai ter marmelada
no cabaré da pátria a(r)mada
cacos de cogumelos azuis
alguns nomes nesta cidade me provocam desconcertam meus
neurônios carrapato imburi macuco muritiba uriticum lagoa dos paus sossego a vida aqui vive enrolada em seus
novelos São Francisco é tão pacata mais pacata que Arcozelo quando acordada não
anda quando dorme é pesadelo
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