domingo, 3 de outubro de 2021

Juras Secretas



Jura secreta 1 


a língua escava entre os dentes 
a palavra nova 
fulinaimânica/sagarínica 
algumas vezes muito prosa 
outras vezes muito cínica 

tudo o que quero conhecer: 
a pele do teu nome 
a segunda pele o sobrenome 
no que posso no que quero 

a pele em flor a flor da pele 
a palavra dandi em corpo nua 
a língua em fogo a língua crua 
a língua nova a língua lua 

fulinaímica/sagaranagem 
palavra texto palavra imagem 
quando no céu da tua boca 
a língua viva se transmuta na viagem 

 

  Jura secreta 13 


o tecido do amor já esgarçamos 
em quantos outubros nos gozamos 
agora que palavro Itaocaras 
e persigo outras ilhas 
na carne crua do teu corpo 
amanheço alfabeto grafitemas 

quantas marés endoidecemos 
e aramaico permaneço doido e lírico 
em tudo mais que me negasse 
flor de lótus flor de cactos flor de lírios 
ou mesmo sexo sendo flor ou faca fosse 
Hilda Hilst quando então se me amasse 

ardendo em nós salgado mar e Olga risse 
pulsando em nós flechas de fogo se existisse 
por onde quer que eu te cantasse ou Amavisse 

 

pele grafia

 

meus lábios em teus ouvidos

flechas netuno cupido

a faca na língua a língua na faca

a febre em patas de vaca

as unhas sujas de Lorca

cebola pré sal com pimenta

na tua língua com coentro

qualquer paixão re-invento

 

o corpo mar quando agita

na preamar arrebenta

espuma esperma semeia

sementes letra por letra

na bruma branca da areia

sem pensar qualquer sentido

grafito em teu corpo despido

poemas na lua cheia


Jura secreta 16

       para may pasquetti                                         

fosse esta menina Monalisa 
ou se não fosse apenas brisa 
diante da menina dos meus olhos 
com esse mar azul nos olhos teus 

não sei se MichelÂngelo 
Da Vinci Dalí ou Portinari

 te anteviram 
no instante maior da criação 

pintura de um arquiteto grego 
quem sabe até filha de Zeus 

e eu Narciso amante dos espelhos 
procuro um espelho em minha face 
para ver se os teus olhos 

já estão dentro dos meus           

Jura secreta 18

 

te beijo vestida de nua
somente a lua te espelha
nesta lagoa vermelha
porto alegre caís do porto
barcos navios no teu corpo

os peixes brincam no teu cio
nus teus seios minhas mãos
as rendas finas  que vestias
sobre os teus pelos ficção

 

todos os laços dos tecidos
aquela cor do teu vestido
a pura pele agora é roupa
o sabor da tua língua
o batom da tua boca
tudo antes só promessa
agora hóstia entre os meus dentes

 

e para espanto dos decentes
te levo ao ato consagrado
se te despir for só pecado

é só pecar que me interessa           

                                           

                                              Jura secreta 27

                                                   rio em pele feminina 

o rio com seus mistérios 
molha meu cio em silêncio 

desejo o que nos separa 
a boca em quantos minutos 

as flores soltas na fala 
o pó dos ossos dos anos 

você me diz não ter pressa 
seus olhos fogo na sala 

o beijo um lance de dados 
cuidado cuidado cuidado 

que sou um anjo de fadas 
não beije assim meus segredos 

meus olhos faróis nos riachos 
meus braços dois afluentes 
pedaços do corpo do rio 
meus seios ilhas caladas 
das chamas não conhece o pavio 

se você me traz para o cio 
assim que o sexo aflora 
esta palavra apavora 
o beijo dado mais cedo 
quebra meu ser no espelho 

meu cerne é carne de vidro 
na profissão dos enredos 
quanto mais água me sinto 
presa ao lençol dos seus dedos 

o rio retrata meu centro 
na solidão de mim mesma 
segundo a segundo nas águas 

lá onde o sol é vazante 
lá onde a lua é enchente 
lá onde o rio é estrada 

onde coloca seus versos 
me encontro peixe e mais nada 


Jura secreta 29

                        esfinge 


 

o amor 
não é apenas um nome 
que anda por sobre a pele 
um dia falo letra por letra 
no outro calo fome por fome 
é que a pele do teu nome 
consome a flor da minha pele 

cravado espinho na chaga 
como marca cicatriz 
eu sou ator ela esfinge: 
Clarice/Beatriz: 

assim vivemos cantando 
fingindo que somos decentes 
para esconder o sagrado 
em nossos profanos segredos 
se um dia falta coragem 
a noite sobra do medo 

é que na sombra da tatuagem 

 sinal enfim permanente 

ficou pregando uma peça 

em nosso passado presente 


o nome tem seus mistérios que 
se escondem sob panos 
o sol é claro quando não chove 
o sal é bom quando de leve 
para adoçar desenganos 
na língua na boca na neve 

o mar que vai e vem não tem volta 
o amor é a coisa mais torta 
que mora lá dentro de mim 
teu céu da boca é a porta 
onde o poema não tem fim 

 

 Jura Secreta 37


devemos não ter pressa 
a lâmina acesa sob o esterco de Vênus 
onde me perco mais me encontro menos 

de tudo o que não sei 
só fere mais quem menos sabe 
sabre de mim baioneta estética 
cortando os versos do teu descalabro 

visto uma vaca triste como a tua cara 
estrela cão gatilho morro: 
a poesia é o salto de um vara 

disse-me uma vez só quem não me disse 
ferve o olho do tigre enquanto plasma 
letal a veia no líquido do além 
cavalo máquina meu coração quando engatilho 

devemos não ter pressa 

a lâmina acesa sob os demônios de Eros 
onde minto mais porque não veros 

fisto uma festa mais que tua vera 
cadela pão meu filho forro: 
a poesia é o auto de uma fera 

devemos não ter pressa 

a lâmina acesa sob os panos quem incesta ? 
perfume o odor final do melodrama 

sobras de mim papel e resma 

impressão letal dos meus dedos imprensados 
misto uma merda amais que tua garra 
panela estrada grão socorro: 
a poesia é o fausto de uma farra 

 

 

   Jura Secreta 40

       pontal.foto.grafia                                  

Aqui, redes em pânico pescam  esqueletos no mar -esquadras - descobrimento  espinhas de peixe convento -  cabrálias esperas relento - escamas secas no prato  e um cheiro podre no 
AR 

caranguejos explodem  mangues em pólvora  Ovo de Colombo quebrado  areia branca inferno livre  Rimbaud - África virgem  carne na cruz dos escombros  trapos balançam varais  telhados bóiam nas ondas  tijolos afundando náufragos  último suspiro da bomba  na boca incerta da barra  esgoto fétido do mundo - grafando lentes na marra  imagens daqui saqueadas  Jerusalém pagã visitada  -Atafona.Pontal.Grussaí -  as crianças são testemunhas:  Jesus Cristo não passou por aqui 

Miles Davis fisgou na agulha  Oscar no foco de palha  cobra de vidro sangue na fagulha  carne de peixe maracangalha  que mar eu bebo na telha  que a minha língua não tralha? penúltima dose de pólvora 
palmeira subindo a maralha  punhal trincheira na trilha  cortando o pano a navalha  - fatal daqui Pernambuco  Atafona.Pontal. Grussaí - 
as crianças são testemunhas :  Mallarmé passou por aqui. 

bebo teu fato em fogo  punhal na ova do bar palhoças ao sol fevereiro  aluga-se teu brejo no mar o preço nem Deus nem sabre  sementes de bagre no porto  a porca no sujo quintal  plástico de lixo nos mangues  que mar eu bebo afinal?  

                     

 Jura Secreta 41

 Goytacá Boy  musicado e cantado por Naiman 
no CD fulinaíma sax blues poesia 

ando por São Paulo meio Araraquara 
a pele índia do meu corpo 
concha de sangue em tua veia 
sangrada ao sol na carne clara 

juntei meu goytacá teu guarani 
tupy or not tupy 
não foi a língua que ouvi 
em tua boca caiçara 

para falar para lamber para lembrar 
da sua língua arco íris litoral 
como colar de uiara 
é que eu choro como a chuva curuminha 
mineral da mais profunda 
lágrima que mãe chorara 

para roçar para provar para tocar 
na sua pele urucum de carne e osso 
a minha língua tara 
sonha comer do teu almoço 
e ainda como um doido curuminha 
a lamber o chão que restou da Guanabara 


Jura Secreta 43

veraCidade                                                     


por quê trancar as portas tentar proibir as entradas  se já habito os teus cinco sentidos e as janelas estão escancaradas ? 

um beija flor risca no espaço  algumas letras de um alfabeto grego  signo de comunicação indecifrável  eu tenho fome de terra  e esse asfalto sob a sola dos meus pés  agulha nos meus dedos 

quando piso na Augusta  o poema dá um tapa na cara da Paulista  flutuar na zona do perigo  entre o real e o imaginário João Guimarães Rosa  Caio Prado Martins Fontes  um bacanal de ruas tortas 

eu não sou flor que se cheire nem mofo de língua morta  o correto deixei na Cacomanga  matagal onde nasci  com os seus dentes de concreto  São Paulo é quem me devora  e selvagem devolvo a dentada 
na carne da rua Aurora 

 

Jura Secreta 53

sagaraNAgens fulinaímicas 

guima 
meu mestre 
guima 
em mil perdões eu vos peço 
por esta obra encarnada 
na carne cabra da peste 
da Hygia Ferreira bem casta 
aqui nas bandas do leste 
a fome de carne é madrasta 

ave palavra profana 
cabala que vos fazia 
veredas em mais Sagaranas 
a Morte em Vidas/Severinas 
tal qual antropofagia 
teu grande Sertão vou cumer 

nem João Cabral Severino 
nem Virgulino de matraca 
nem meu padrinho de pia 
me ensinou usar faca 
ou da palavra o fazer 

a ferramenta que afino 
roubei do mestre Drummundo 
que o diabo GiraMundo 
é o Narciso do meu Ser 

Jura secreta 57

                                         meta metáfora no poema meta

como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico prumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste

como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em prumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece

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