a língua escava entre os dentes
a palavra nova
fulinaimânica/sagarínica
algumas vezes muito prosa
outras vezes muito cínica
tudo o que quero conhecer:
a pele do teu nome
a segunda pele o sobrenome
no que posso no que quero
a pele em flor a flor da pele
a palavra dandi em corpo nua
a língua em fogo a língua crua
a língua nova a língua lua
fulinaímica/sagaranagem
palavra texto palavra imagem
quando no céu da tua boca
a língua viva se transmuta na viagem
e aramaico permaneço doido e lírico
em tudo mais que me negasse
flor de lótus flor de cactos flor de lírios
ou mesmo sexo sendo flor ou faca fosse
Hilda Hilst quando então se me amasse
ardendo em nós salgado mar e Olga risse
pulsando em nós flechas de fogo se existisse
pele grafia
meus lábios em teus
ouvidos
flechas netuno
cupido
a faca na língua a
língua na faca
a febre em patas de
vaca
as unhas sujas de
Lorca
cebola pré sal com
pimenta
na tua língua com
coentro
qualquer paixão
re-invento
o corpo mar quando
agita
na preamar
arrebenta
espuma esperma
semeia
sementes letra por
letra
na bruma branca da
areia
sem pensar qualquer
sentido
grafito em teu
corpo despido
poemas na lua cheia
para may pasquetti
procuro um espelho em minha face
já estão dentro dos meus
Jura secreta 18
te beijo vestida de nua
somente a lua te espelha
nesta lagoa vermelha
porto alegre caís do porto
barcos navios no teu corpo
os peixes brincam no teu cio
nus teus seios minhas mãos
as rendas finas que vestias
sobre os teus pelos ficção
todos os laços dos tecidos
aquela cor do teu vestido
a pura pele agora é roupa
o sabor da tua língua
o batom da tua boca
tudo antes só promessa
agora hóstia entre os meus dentes
e para espanto dos decentes
te levo ao ato consagrado
se te despir for só pecado
é só pecar que me interessa
Jura secreta 27
rio em pele feminina
seus olhos fogo na sala
meus braços dois afluentes
pedaços do corpo do rio
meus seios ilhas caladas
das chamas não conhece o pavio
se você me traz para o cio
assim que o sexo aflora
esta palavra apavora
o beijo dado mais cedo
quebra meu ser no espelho
na solidão de mim mesma
segundo a segundo nas águas
Jura secreta 29
o amor
não é apenas um nome
que anda por sobre a pele
um dia falo letra por letra
no outro calo fome por fome
é que a pele do teu nome
consome a flor da minha pele
cravado espinho na chaga
como marca cicatriz
eu sou ator ela esfinge:
Clarice/Beatriz:
assim vivemos cantando
fingindo que somos decentes
para esconder o sagrado
em nossos profanos segredos
se um dia falta coragem
a noite sobra do medo
é que na sombra da tatuagem
ficou pregando uma peça
em nosso passado presente
o nome tem seus mistérios que
se escondem sob panos
o sol é claro quando não chove
o sal é bom quando de leve
para adoçar desenganos
na língua na boca na neve
o mar que vai e vem não tem volta
o amor é a coisa mais torta
que mora lá dentro de mim
teu céu da boca é a porta
onde o poema não tem fim
devemos não ter pressa
a lâmina acesa sob o esterco de Vênus
onde me perco mais me encontro menos
de tudo o que não sei
só fere mais quem menos sabe
sabre de mim baioneta estética
cortando os versos do teu descalabro
visto uma vaca triste como a tua cara
estrela cão gatilho morro:
a poesia é o salto de um vara
disse-me uma vez só quem não me disse
ferve o olho do tigre enquanto plasma
letal a veia no líquido do além
cavalo máquina meu coração quando engatilho
devemos não ter pressa
a lâmina acesa sob os demônios de Eros
onde minto mais porque não veros
fisto uma festa mais que tua vera
cadela pão meu filho forro:
a poesia é o auto de uma fera
devemos não ter pressa
a lâmina acesa sob os panos quem incesta ?
perfume o odor final do melodrama
sobras de mim papel e resma
impressão letal dos meus dedos imprensados
misto uma merda amais que tua garra
panela estrada grão socorro:
a poesia é o fausto de uma farra
Aqui, redes em pânico pescam esqueletos no mar -esquadras - descobrimento espinhas de peixe convento - cabrálias esperas relento - escamas secas no prato e um cheiro podre no
AR
caranguejos explodem mangues em pólvora Ovo de Colombo quebrado areia branca inferno livre Rimbaud - África virgem carne na cruz dos escombros trapos balançam varais telhados bóiam nas ondas tijolos afundando náufragos último suspiro da bomba na boca incerta da barra esgoto fétido do mundo - grafando lentes na marra imagens daqui saqueadas Jerusalém pagã visitada -Atafona.Pontal.Grussaí - as crianças são testemunhas: Jesus Cristo não passou por aqui
Miles Davis fisgou na agulha Oscar no foco de palha cobra de vidro sangue na fagulha carne de peixe maracangalha que mar eu bebo na telha que a minha língua não tralha? penúltima dose de pólvora
palmeira subindo a maralha punhal trincheira na trilha cortando o pano a navalha - fatal daqui Pernambuco Atafona.Pontal. Grussaí -
as crianças são testemunhas : Mallarmé passou por aqui.
bebo teu fato em fogo punhal na ova do bar palhoças ao sol fevereiro aluga-se teu brejo no mar o preço nem Deus nem sabre sementes de bagre no porto a porca no sujo quintal plástico de lixo nos mangues que mar eu bebo afinal?
Jura Secreta 41
Goytacá Boy
musicado e cantado por Naiman
no CD fulinaíma
sax blues poesia
ando por São Paulo meio Araraquara
a pele índia do meu corpo
concha de sangue em tua veia
sangrada ao sol na carne clara
juntei meu goytacá teu guarani
tupy or not tupy
não foi a língua que ouvi
em tua boca caiçara
para falar para lamber para lembrar
da sua língua arco íris litoral
como colar de uiara
é que eu choro como a chuva curuminha
mineral da mais profunda
lágrima que mãe chorara
para roçar para provar para tocar
na sua pele urucum de carne e osso
a minha língua tara
sonha comer do teu almoço
e ainda como um doido curuminha
a lamber o chão que restou da Guanabara
Jura Secreta 43
veraCidade
por quê trancar as portas tentar proibir as
entradas se já habito os teus cinco
sentidos e as janelas estão escancaradas ?
um beija flor risca no espaço algumas letras de um alfabeto grego signo de comunicação indecifrável eu tenho fome de terra e esse asfalto sob a sola dos meus pés agulha nos meus dedos
quando piso na Augusta o poema dá um tapa na cara da Paulista flutuar na zona do perigo entre o real e o imaginário João Guimarães Rosa Caio Prado Martins Fontes um bacanal de ruas tortas
eu não sou flor que se cheire nem mofo de
língua morta o correto deixei na Cacomanga
matagal onde nasci com os seus dentes de concreto São Paulo é quem me devora e selvagem devolvo a dentada
na carne da rua Aurora
Jura Secreta 53
sagaraNAgens fulinaímicas
guima
meu mestre
guima
em mil perdões eu vos peço
por esta obra encarnada
na carne cabra da peste
da Hygia Ferreira bem casta
aqui nas bandas do leste
a fome de carne é madrasta
ave palavra profana
cabala que vos fazia
veredas em mais Sagaranas
a Morte em Vidas/Severinas
tal qual antropofagia
teu grande Sertão vou cumer
nem João Cabral Severino
nem Virgulino de matraca
nem meu padrinho de pia
me ensinou usar faca
ou da palavra o fazer
a ferramenta que afino
roubei do mestre Drummundo
que o diabo GiraMundo
é o Narciso do meu Ser
Jura secreta 57
meta metáfora no poema meta
como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico prumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste
como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em prumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece
Nenhum comentário:
Postar um comentário