mar de lama
aqui tem os mais profundos
bem mais fundo
os mais imundos minerais
o mar de lama
mata a mata
não só ferro
não só ouro
não só
prata
mata muito mais
mata também
o couro cru
a carne viva
meus oriundos ancestrais
onde a poesia
não é fogo de palha
é brasa viva
indicativo
olho dentro do teu olho
para que olhe na minha cara
e cara a cara me diga
a quantas anda a nossa briga
do nosso amor pela ética
se é tão estranha a poética
de só pensar lá na frente
que até perdi a conta
nesse pretérito faz de contas
das quantas vezes
que já votei pra presidente
e o nosso país do futuro
que nunca chega no presente
boca do inferno
por mais que te amar seja uma zorra
eu te confesso amor pagão
não tem de ter perdão pra nós
eu quero mais é o teu pudor de dama
despetalando em meus lençóis
e se tiver que me matar que seja
e se eu tiver que
te matar que morra
em cada beijo que te der amando
só vale o gozo quando for eterno
infernizando os céus
e santificando a boca do inferno
satânica
eu sou ator
poeta
cineasta
produtor cultural
vivo pintando o sete
nos porões da catedral
tenho cabeça
tronco
membro sexual
não tenho a cara da morte
trafego de sul a norte
no destino tracei minha sorte
eu sou Universal
poema das invenções
com os meus olhos nos navios
intransitiva linguagem
gomes & gumes
todo poema tem dois gomes toda faca tem dois gumes
de um eu não digo os nomes da outra não mostro os
lumes
se um corta com palavras a outra com corte mesmo
se um é produto da fala a outra do ódio a esmo
todo poema tem dois gomes toda faca tem dois gumes
e um amor cego nas asas brilhante de vagalumes
se em um a linguagem é sacana
na outra o corte é estrume
todo poema tem dois gomes toda faca tem dois gumes
se em um peixe é palavra na outra o brilho é
cardume
é fio estrela na lavra mal cheiro vício costume
de um eu não digo os nomes da outra não mostro os
lumes
se em um a coisa é sagrada ofício provindo das
vísceras
na outra a fé é lacrada hóstia servida nas missas
se em um é cebola cortada aroma palavra carniça
na outra o ferro, é tempero, fé cega - fome amolada
– poema é só desespero
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