felínica
desfolhei teu bem-me-quer
flores do mal não dá sossego
a hora
do desassossego
me chega sem aviso como agora
teu corpo fala o infalível
e tem as curva de estradas
que não percorri
não sei porque ainda estou com fome
e não comi
Artur Gomes
May Pasquetti - foto: Artur Gomes Gumes - na Usina
do Gasômetro - Porto Alegre-RS
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a poesia
da barra
ainda esbarra
no centro imponderável
que o tempo
ainda me traz
Artur Gomes
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Poétika
flor de cactos
no quintal da minha casa
na asa da palavra
beija-flor acende o dia
o sol a carne em brasa
alvoroço no silêncio - algaravia
Imbé
sendo a dor o que me resta
do pulmão desta floresta
só me cabe erguer o grito
com a gana dos aflitos
antes que a morte faça a festa
Artur Gomes
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metáfora
A luz a cor a água
tudo ouro
que transluz metáfora
na flor da pele do besouro
Artur Gomes
Foto: Dudu Linhares
Beatriz – A Morta
Oswald de Andrade Re-Visitado
como pedra me olhas
como fedra te vejo
vestida de carne nua
a língua na maçã navalha
tua alma transparente crua
o olho por detrás da porta
poema com pavio aceso
quando Oswald pariu A Morta
tinha o dente
nos teus olhos preso
Artur Gomes
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Muito Prá Lá de Além do Mar
ontem conversando com Zeus
olha só o que me disse
:
- àquela Eva
que me roubaste
em outras Eras
no Jardim de Bento
quero a devolução
- Sai prá lá Zeus não sou Adão
- mas tuas juras secretas
me veio criar tormentas
insandeceu as serpentes
mudou do vento as correntes
no mar inverteu marés
incendiou luas cheias
- que posso fazer
se tenho veneno nas veias?
tenho o sangue intoxicado
por tudo que bebo e como
aliás não és meu dono
pra me dar ordens do além
- posso não ser seu dono
mas sou que vos ilumina
te botei nas mãos a menina
pra te arder de paixão
deixar tua alma feminina
e dilacerar teu coração
- seu descarado bandido
deixa de conversa fiada
que a menina que vos fala
alinhavou meus desvelos
bebeu meu sangue na sala
e despertou do pesadelo
conKretude
poesia:
tesão teu nome
transforma ritual & gesto
não presto porque te amo
te amo por que não presto
ConkrEreção
ainda escorre entre meus dedos
a fome por por vinho e uva
a carne doce da musa
lá do vale dos vinhedos
entre a saliva e a chuva
a virgem fruta entre os dentes
como flecha incandescente
como uma deusa de Bacco
a safada me lambuza
me come bebe e me usa
em seu banquete antropofágico
mastigando poemas meus
mas o amor pode ser trágico
se o seu pai não fosse zeus
poética
O pássaro estático
com seus fios de músculos
entre os fios elétricos
observa a tarde
enquanto dois olhos ocultos
por detrás das lentes
com seus raios de ímã
traz o pássaro pra gente
quem sabe acerto
o caminho do trilho
e foco dos teus olhos o brilho
a tarde arde como gengibre na carne da boca faz tempo não pedalo pelo litoral com a língua alvoroçada na espuma das marés em guaxindiba sempre encontro motivo para os dentes lábios e dedos carne de caranguejo no meio do beijo tem uma mulher de Itaocara passeando por aqui saudades da minha amiga de Recife e da sua filha em Rio das Ostras onde vaza sob meus pés o poema inacabado agora me vens de Salvador todo desejo toda fúria incontrolável como cavalo selvagem que se desprendeu da cela.
procuro uma menina
que seja assim quase criança
que seja assim quase mulher
procuro uma menina
que saiba bem a diferença
entre o mal e o bem-me-quer
que saiba bem a flor que cheira
pra desfolhar o mal-me-quer
sabendo tudo brincadeira
saiba beijar o que ela quer
saiba que o beijo é um desejo
que nasce da flor quando mulher
saiba que o desejo quando beijo
não é por um amor qualquer
Artur Gomes
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