entre dentes
entre línguas
a saliva entre os olhos
a bala
na pandemia
mais um morto estendido na vala
enquanto o genocida -
com sua ira assassina
cala
e mata com cloroquina
A vida
sempre em
suspense
alegria prova dos nove
fanatismo nã0 me convence
muito menos me comove
Artur Gomes Fuliaíma
olho de lince
para Tchello d´Barros
onde engendro
a Sagarana
invento
a Sagaranagem
entre a vertigem
e a voragem
na palavra
de origem
entre a língua
e a miragem
São Bernardo
e Diadema
mordendo: o vírus da linguagem
no olho de lince do poema
Navegar é
preciso
para Fernando Aguiar
Aqui
redes em pânico
pescam esqueletos no mar
esquadras descobrimento
espinhas de peixe convento
cabrálias esperas relento
escamas secas no prato
e um cheiro podre no AR
caranguejos explodem
mangues em pólvora
é surreal a nossa realidade
tubarões famintos devoram cadáveres
em nossa sala de jantar
como levar o barco
em meio a essa tempestade
navegar é preciso
mas está dificilíssimo navegar
Deus não joga dados
mas a gente lança
sem nem mesmo saber
se alcança
o número que se quer
mas como me disse mallarmè
:
- vida não é lance de dedos
A vida é lança de dardos
Deus não arde no fogo
mas eu ardo
EuGênio Mallarmè
no país
da
pandemônia
se é corrupto branco rico
e fez parte de algum golpe
de estado
o mandato é de prisão
se é negro pobre favelado
o mandato é execução
poema
a(r)mado
todo os dias
capino a esperança
escavando outras palavras
no chão desse quintal
e quando escrevo com enxada
o
poema é mais real
cacomanga
na roça desde cedo comecei a escavar
palavras e separar uma das outras de acordo com o seu significado dar farelo de
milho para os porcos e olhadura de cana para o gado aprendi que no terreiro não
dependo de mercado e para que urbanidade se a cidade não tem paz com a enxada
capinei a liberdade e descobri que ditadura é uma palavra que não cabe nunca mais
das veredas do silêncio
as vielas dos escombros
não sei mais por onde ando
nesse país esgoto
esgotada todas as possibilidades
da fala escrevo
dando descarga na privada
da latrina pública
no banheiro do palácio do planalto
Pastor de Andrade
quando escrevo e eu mesmo não entendo o significado de uma
determinada metáfora lanço a maldita no vento invento outra e vou ao centro do
universo e xingo teu nome garrutio lamparão de bico kabrunco de poema que não me dá sossego
Federika
Lispector
testamento
a tesoura rasga o tecido da carne
enquanto sangra
no processo cirúrgico do poema
corta de cada palavra a sílaba
que não presta
de cada frase a palavra
de cada sílaba a letra morfa
e o poeta vai vivendo no que resta
fulinaíma sax blues poesia
ela era Bruna
em noite de blues rasgado
soltou a voz feito Joplin
num canto desesperado
por ser primeiro de abril
aquele dia marcado
a voz rasgou a garganta
da santa loucura santa
com tanta força no canto
que até hoje me lembro
daquela musa na sala
com tua boca do inferno
beijando meus dentes na fala
obs.: esse poema foi escrito em noite de Fulinaíma Sax Blues Poesia, no
dia 1º de Abril de 2015 – 50 anos do Golpe Militar de 1964, performance
realizada no Bar e Restaurante Dona Baronesa, em Campos dos Goytacazes-RJ, com
Artur Gomes, Reubes Pess, Dalton Freire e Bruna Tinoco.
No universo paralelo
Tenho doutorado Bíblico
Em chá de cogumelo
Federico Baudelaire
Pássaros Elétricos
Vivem a vida por um fio
Federika Bezerra
Deus não joga Dados
Mais eu
lanço
EuGênio
Mallarmè
Dê livros
Dê
Beijos
Dê Lírios
Gigi Mocidade
pan(demônica)
para
Salgado Maranhão
inspirado
no seu poema Pá
passeio os pés descalços
sobre covas rasas
contando ossos no poema exposto
no sujeito do objeto
tudo isso exposto
nesse papo reto
segue o passo norte
não leio cartas de suicídio
nem decreto de hospício
na tentação que me conforte
quero matar o genocídio
pra não morrer antes da morte
metáfora
meta
dentro meta fora
que a meta desse trem agora
é seta nesse tempo duro
meta palavra reta
para abrir qualquer trincheira
na carne seca do futuro
meta dentro dessa meta
a chama da lamparina
com facho de fogo na retina
pra clarear o fosso escuro
Quem
cada poeta tem a sua pessoal linguagem vertigem voltagem
espanto. alguns tem até desmaios. uns escrevem outros cantam outras falam.
conheci um que me dizia ouvir vozes não só apenas Ferreira Gullar. uma outra
queria ter meu fogo. uma outra é a mulher que só em sonhos sabe o quanto
bem-me-quer. outra se assanhava diante do espelho. alguns são mágicos como uns
que brincam com o sal do maranhão. outros são flechas certeiras atiradas em
nosso peito. dois que conheci dando os primeiros passos um pensava na fábrica o
outro em Regis Bonvicino, hoje um corsário o outro cult. nem sei porque estou
escrevendo isso. é que ontem conversando com um por telefone descobri mais um
montão de particularidades sobre ele. conheci um também grande mestre e amigo
que só queria saber de escritemas e gostava de ensinar curto circuitos. agora
esse é Quem e chegou ontem em Campos na casa da minha irmã depois de 2 meses
postado nos correios em São Paulo. me lembro agora dos passeios com Flora na praça General Osório em
Ipanema que encontrava sempre um que me dizia ter um poema escrito só com a
palavra Bunda mas que só permitiria ser publicado depois da sua morte e gostava
de afirmar também que prefácio não é bengala. eu sou um Homem Com A Flor Na Boca, de cactos, de lótus, de lírios que me
trazem conteúdo. e baudelérico baudelírico despetalo pétala por pétala com
espinhos com talo com tudo.