das escolhas que fiz
ser abrigo
seguir comigo
louca, santa, put@
todas me tem
estruturalmente
em compartimentos
de vidro
quando cacos
pedaços espalhados
reluzem
ocupação
para poucos
expurgo da dor
cola de sangue
medo
desejo
esperança
refaz o lar
remendos para arrematar
beleza construída
estou
reconhecida
Flávia Gomes
nasce o caminho
perde-se
começa teu eu
sem direção exata
liberdade de Sartre
condenada
não há faixa
sinalização
teu corpo é abrigo
segue contigo
Flávia Gomes
emaranhados
somos
seiva fluida
vida
em entremeios
elos de pulsão
sempre seco
sempre verde
constante renovação
pousa em mim
eu aninho
abrigo asas
livre-prisão
Flávia Gomes
irina agora também é modelo dessas pinturas clássicas que a gente não sabe qual foi o pincel usado pelo pintor
desde guarapari
lá por por dois mil e cinco
que o meu telhado é de zinco
o meu chão é de estrelas
a minha pele tem plumas
minha língua espuma
quando roço em teus cabelos
Rúbia Querubim
https://arturgumes.blogspot.com/
Com Os Dentes Cravados Na Memória
A Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba Oculta No Inconsciente Coletivo, nasceu em dezemvro de 1990, durante uma viagem em que cia de Guiomar Valdez, levamos uma turma de estudantes da então ETFC(IFF), a Ouro Preto-MG, como premiação por terem vencidos a Gincana Cultural desenvolvida durante o ano, pelo Grêmio Estudantil Nilo Peçanha. Lá conheci Gigi Mocidade – A Rainha da Bateria, com quem vivi até 1996.
A Igreja Universal do Reino de Zeus, criei em 2002 durante a 1ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ, que foi realizada nas dependências do Ginásio de Esportes do então CEFET-Campos, onde na ocasião lancei o livro BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas.
O grande objetivo da IURZ é homenagear deuses deusas da África e Grécia para de alguma forma descobrir de onde vem as nossas ancestralidades. De alguma forma e em alguns momentos mitologia grega e africana se misturam e viajando metaforicamente nessas realidades reinventadas vim desaguar no Vampiro Goytacá canibal Tupiniquim.
Artur Gomes
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caminhou lentamente
com areia entre os dedos
afundando o peso da dor
cabelos emaranhados
pés molhados
lambidos pela imensidão
contemplou
desejou matar a sede
desidratando o passado
se entregou
sabia nadar
o mar
ensinou a boiar.
Flávia Gomes
para esta tarde de domingo, com mormaço e chuva
interrogar as fronteiras
entre macho e fêmea
da linguagem
multiplicar os territórios
de indefinição comunitária
tocar na pele polifônica
de todos os sentidos
em alerta
erodir tudo ao redor
do abismo
deixar apenas
teu corpo
em sobrecarga
no mercado
das palavras
e que só o barulho do silencio
te atravesse
agora
Herbert Valente de Oliveira
sina
de metades
coladas
outras soltas
sou inteira
sem acomodar
no peito
o amor
e o cansaço
no rosto
o riso
e o desamparo
nos braços
o abraço
e o frio
nos pés
o caminho
e o descompasso
na alma
o infantil
e o devasso
sou casa de tábuas velhas
que range
dentes à noite
em bruxismo
procurando encostar
a vassoura
que não limpa faz tempo
o terreno das indecisões
sou decididamente
incompletude
dissecação de experimentos
laboratório de loucura
em análise
medicação em doses
de sentimentos
sou o ressentimento
do não feito
exigindo o perfeito
predicado
abdicado
resignado
“estala coração de vidro pintado”
quando caco
metades
coladas
outras soltas
sou inteira
sem acomodar.
Flávia Gomes
“estala coração de vidro pintado” (menção ao poema de Álvaro de Campos, “Esta velha angústia”.)
Em, Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). - 54
Mútiplas Poéticas
Irina agora também é modelo dessas pinturas clássicas que a gente não sabe qual foi o pincel usado pelo pintor
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Jura Secreta 35 pontal.foto.grafia
Aqui,
redes em pânico pescam
esqueletos no mar
- esquadras - descobrimento
espinhas de peixe convento -
cabrálias esperas relento -
escamas secas no prato
e um cheiro podre no
AR
caranguejos explodem
mangues em pólvora
Ovo de Colombo quebrado
areia branca inferno livre
Rimbaud - África virgem
carne na cruz dos escombros
trapos balançam varais
telhados bóiam nas ondas
tijolos afundando náufragos
último suspiro da bomba
na boca incerta da barra
esgoto fétido do mundo
grafando lentes na marra
imagens daqui saqueadas
Jerusalém pagã visitada
- Atafona.Pontal.Grussaí -
as crianças são testemunhas:
Jesus Cristo não passou por aqui
Miles Davis fisgou na agulha
Oscar no foco de palha
cobra de vidro sangue na fagulha
carne de peixe maracangalha
que mar eu bebo na telha
que a minha língua não tralha?
penúltima dose de pólvora
palmeira subindo a maralha
punhal trincheira na trilha
cortando o pano a navalha
- fatal daqui Pernambuco
Atafona.Pontal. Grussaí -
as crianças são testemunhas :
Mallarmé passou por aqui.
bebo teu fato em fogo
punhal na ova do bar
palhoças ao sol fevereiro
aluga-se teu brejo no mar
o preço nem Deus nem sabre
sementes de bagre no porto
a porca no sujo quintal
plástico de lixo nos mangues
que mar eu bebo afinal?
Jura secreta 90
do portal desta estação
ouço a voz do teu silêncio
o amor com seus olhos castanhos
passou no trem pra Leningrado
e o nosso encontro marcado
ficou para depois da estação Porto Viejo
onde a droga do desejo
é um veneno pra nós dois.
Jura secreta 91
cara velas ao vento
toda barra em movimento
e o morro do juramento
corre em busca da farinha
que Cabral já descobriu
e um Rio violento
na pedra do Redentor
chora a morte da vizinha
chora a barbárie e o terror
e o marco do monumento
metralhadora e fuzil
pra garantir o movimento
só o prefeito é quem não viu
que esta cidade para olímpica
é uma ponte que caiu
Jura secreta 92
me encanta mais teus olhos
que o plano piloto de Brasilha
o palácio do planalto o alvorada
me encanta mais as mãos da namorada
que a bandeira do Brazil
o céu de anil a Tropicalha
quero muito mais a CarNAvalha
do que a palavra açucarada
quero a palavra sal do suor da carne bruta
Flor de Lótus Cio da Fruta
mesmo quando for somente espinhos
me encanta os pés que a lata chuta
por entender que a vida é luta
para abrir novos caminhos
me encanta mais na lama o lírio
a flor do Lascio
os olhos da minha filha
que o ouro dessas quadrilhas
que habitam esses Palácios
Jura secreta 93
beber da tua língua
líquido na maresia
suor no mar dessa linguagem
e tudo mais beberia
no teu corpo em desalinho
em luas de tempestades
em lençóis de calmaria
palavras em tua boca
levaram-me ao descaminho
amarraste-me em tua cama
com tuas garras de linho
depois que me embriagaste
com tuas garras de vinho
Jura secreta 94
nem todo poema curto
nem todo endereço acerto
a meta do poeta é o alvo
o alvo do poeta é a meta
a flecha estendida no arco
o arco estendido na seta
eu quero teus olhos de vidro
não poema em linha reta
nem toda cidade prova
nem todo poema povo
a clara da gema nova
pode estar dentro do ovo
o biscoito fino pra massa
o Dia D sem trapaça
acende a fornalha na praça
a massa do biscoito fino
Jura secreta 95
como se fosse infinita estrada
provocando descaminhos
desafiando caminhadas
Clarice diante do espelho
no mar do precipício
transparece o corpo em algazarra
a farra do vestido ao vento
mastigando meus instintos
na carne da noite a dentro
Jura Secreta 96
só me queira assim caçado
mestiço vadio latino
leão feroz cão danado
perturbando o teu destino
só me queira enfeitiçado
veloz macio felino
em pelo nu depravado
em tua cama sol à pino
só me queira encapetado
profanando aqueles hinos
malandro moleque safado
depravando os teus meninos
só me queria desalmado
cão algoz e assassino
duplamente descarado
quando escrevo e não assino
Jura secreta 97
mesmo se fosses
andorinha gavião ou colibri
beija-flor singrando os ares
meu amor meu bem-te-vi
Jura Secreta 98
Dandara tão clara
quanto rara
jura secreta
que desabrocha
em flor de lótus
flor de lascio
flor de lírios
flor de cactos
flor/espinho
depois do amor
pedra trans/tornada
flor no meio do caminho
Jura Secreta 99
dentro do quarto
o poema tenso
não entra nem sai
o estômago ronca
as tripas gritam de fome
e o poema preso
tenta dar um salto
pular pelas janelas
o impulso é fraco
o país é pobre
enquanto o povo dorme
a rosa se esfacela
e os restos de bandeja
são vendidos por migalhas
Jura secreta 100 memorial dos ossos
espora essa palavra amolada
dessas que cortam a carne
no primeiro toque
espora em meu sentido rock
não um mero truque
no pulsar da língua
que a tua pele lambe
quando saliva aflora
espora em meu cavalo branco
o simbolismo aceso
todo dia é dia de São Jorge
Jorge Luis Borges
num plural latino
escavar a terra em busca da palavra
quando nervo implora
espora temporal dos músculos
memorial dos ossos nesse tempo bruto
tudo quanto posso
Artur Gomes
do livro Juras Secretas
Editora Penalux – 2018
www.secretasjuras.blogspot.com