sábado, 9 de abril de 2022

SagaraNAgens Fulinaímicas

 


dela tenho o nome

 

um nome é muito mais que um nome uma sílaba aberta quando o sobrenome  é também feliz semântica abstrata ou muito mais  concreta quando  além do corpo muito além me diz  estando em mar de minas fosse  espírito santo  tiradentes barbacena  desventra entre   montanhas  a fala no silêncio  desde que a mãe se foi  e nenhum deus te fala o quanto o ser menina em minha íris/retina ecoa a voz que  cala por dez anos depois.

 

SagaraNAgens Fulinaímicas



guima meu mestre guima

em mil perdões eu vos peço

por esta obra encarnada

na carne cabra da peste

da hygia ferreira bem casta

aqui nas bandas do leste

a fome de carne é madrasta



ave palavra profana

cabala que vos fazia

veredas em mais sagaranas

a morte em vidas severinas

tal qual antropofagia

teu grande serTão vou cumer



nem joão cabral severino

nem virgulino de matraca

nem meu padrinho de pia

me ensinou usar faca

ou da palavra o fazer



a ferramenta que afino

roubei do meste drummundo

que o diabo giramundo

é o narciso do meu Ser

 

 

EntreDentes

queimando em mar de fogo me registro
lá no fundo do teu íntimo
bem no centro do meu nervo brota
uma onda de sal e líquido
procurando a porta do teu cais

teu nome já estava cravado nos meus dentes
desde quando Sísifo olhava no espelho

primeiro como mar de fogo
registro vivo das primeiras Eras
segundo como Flor de Lótus
cravado na pele da flor primavera

logo depois gravidez e parto
permitindo o Logus quando 0 amor quisera

 

 

Esfinge

 

o amor 
não e apenas um nome 
que anda por sobre a pele

um dia falo letra por letra 
no outro calo fome por fome 
é que a flor da tua  pele
consome a pele do meu nome

 

cravado espinho na chaga 
como marca cicatriz 
eu sou ator ela esfinge 
clarice/beatriz

 

assim vivemos cantando 
fingindo que somos decentes 
para esconder o sagrado 
em nosso profanos segredos

se um dia falta coragem 
a noite sobra do medo

 

é que na sombra da tatuagem 
sinal enfim permanente 
ficou pregando uma peça 
em nosso passado presente

 

o nome tem seus mistérios 
que se escondem sob panos

o sol e claro quando não chove 
o sal e bom quando de leve 
para adoçar desenganos 
na língua na boca na neve

 

o mar que vai e vem 
não tem volta

o amor é a coisa mais torta 
que mora lá dentro de mim 
teu céu da boca e a porta 
onde o poema não tem fim



Artur Gomes

www.fulinaimagens.blogspot.com



despejo

“Se morar é um direito ocupar é um dever.”                     (MTST)

a polícia se aproxima

há que expulsar os invasores

que voltem às ruas

aos vãos das pontes

morar não é para amadores

 

foi breve a esperança dos sobrantes

e longa a noite de maldades

há um rastro de guerra pelas ruas

e um choro miúdo se perde

entre ruínas

 

o pavor já silencia

alguns não morrem

sob as patas dos cavalos

 

Helena Ortiz

 

eco sistema

o que fazem partidos políticos, governantes e populações em gerais no planeta pela sua preservação? apesar dos discursos e das anunciadas ações estratégicas, muito mais como forma de conquistar votos e simpatizantes para os seus quadros, a verdade é que de ações concretas, pouco se faz, e o estado ambiental do planeta é de degradação total.

www.fulinaimargem.blogspot.com




 

Ele Bebe Toró

 

Um teleférico de gotinhas empapa o fio e ruma pro telhado contíguo.

 

Todas as tardes minha lage vira lagoa
Aí começa explosão de bomba no infinito,
E vem clarão, e vem trovão partido, cismado numa quebradeira de ar

 

Onde já se ouviu?
Vieram a nascer só pra som
Foi daí que veio o som:
desse estrondo rasgado, ameaçando deixar o firmamento em dois

 

Depois do susto, tudo o que é animado, até o parado, dito sem vida, mineral, o elemento que for trata de pôr-se em colaboração:

Vento sonoro nas lascas de frincha de casa,
Nos conjuminados de concreto espaçados um dedo de assobio só algazarrar em tarde ruidosa.

 

Farfalha baderneiro o pé de amora e de tanto balanço, cheio de vestígio, ameaça desplantar, correr pra outro lugar.

 

Tinha folhagem, por trás da guarimã, que corria
Coloquei atenção e vi: elas caminham.

Pensei fossem grudadas na terra. Engano. Tramóia.
Com evento relampejado e perigoso
põem-se num deslocado alvoroço
Rodam com chocalhos,
Riem,
Rebolam verdes penteados

 

Muitas aproveitam a liberdade,
O fechar de janelas,
O escondido dos humanos podadores e namoram.

 

É um fornicalho
Lambuzam-se embebidas n`água
Soltam folhas, gemidos,
quebram galhos,
amontoam-se, misturam espécies.

 

Mas não acasalam, pura farra, sem vergonhice
É tanta dança; talvez pra compensar outros dias de fixidez.

 

Sei que as gotas estouram,
Podiam escorrer viscosas, mas não,
Cantam, colaboram com a tempestade sinfônica
Estalidos miúdos,
Somados,
Multiplicados,
Virando multidão,
A gota torna grossa a chuva,
Música em telha de barro,
Aposta corrida e salta da lage e
junta de outras,
coladas as gotas,
velozes,
audíveis de longe,
já são enchurrada.

 

Corre, corre, empurra, empurra,
faz piscina e rodela a ciscar no bueiro
Som, ação, colaboração,
Participo da festa,
Pisco os olhos pra melhor escutar,

Cuspo na lagoa,
Uma gota,
Meu
Estrondo,
agora SOU TEMPESTADE!

 

Luciano Carvalho – SP

Poema Vencedor do V FestCampos de Poesia Falada – 2004




 

era uma vez eu sempre quis

ele não queria

foi a primeira vez

na sala de teatro

me deflorou com os olhos

me levitou no mar

Guarapari quem dera

fosse marés em calmaria

era tudo tempestade

ondas  de sal suor na pele maresia

me entregava feito arraia

ele se fechava como  ostra

me esfregava em seus mistérios

dentro em sua concha de escrúpulos

me entranhava em seu novelos

até que hoje em meus silêncios

meu cio venceu teus zelos

e o mar é nosso casa

dentro e fora em nossas águas

me devora como brasa

e recompõem meus desmantelos

 

Gigi Mocidade

www.personasarturianas.blogspot.com



“Eros e Psique”

 

Conta a lenda que dormia

Uma Princesa encantada

A quem só despertaria

Um Infante, que viria

Do além do muro da estrada.

 

Ele tinha que, tentado,

Vencer o mal e o bem,

Antes que, já libertado,

Deixasse o caminho errado

Por o que à Princesa vem.

 

A Princesa adormecida,

Se espera, dormindo espera.

Sonha em morte a sua vida,

E orna-lhe a fronte esquecida,

Verde, uma grinalda de hera.

 

Longe o Infante, esforçado,

Sem saber que intuito tem,

Rompe o caminho fadado.

Ele dela é ignorado.

Ela para ele é ninguém.

 

Mas cada um cumpre o Destino –

Ela dormindo encantada,

Ele buscando-a sem tino

Pelo processo divino

Que faz existir a estrada.

 

E, se bem que seja obscuro

Tudo pela estrada fora,

E falso, ele vem seguro,

E, vencendo estrada e muro,

Chega onde em sono ela mora.

 

E, inda tonto do que houvera,

À cabeça, em maresia,

Ergue a mão, e encontra hera,

E vê que ele mesmo era

A Princesa que dormia.

 

Fernando Pessoa


o vestido branco transparente  que vasa na noite de lua todo raio do relâmpago  luz de fogo e trovoada era noite de outono  21 de março como se fosse hoje e sob as rendas brancas ela me mostra os poros como se fossem pelos  num sinal de alerta me avisando sobre a porta  entre/aberta e nos porões da pele me convidasse entrar

 

Federico Badudelaire

www.coletivomacunaimadecultura.blogspot.com

 

Espanhola

 

Por tantas vezes
Eu andei mentindo
Só por não poder
Te ver chorando

Te amo Espanhola
Te amo Espanhola
Se for chorar
Te amo

Sempre assim
Cai o dia e é assim
Cai a noite e é assim
Essa lua sobre mim
Essa fruta sobre o meu paladar

Nunca mais
Quero ver você me olhar
Sem me enxergar em mim
Eu preciso lhe falar
Eu preciso tenho que lhe contar

Te amo Espanhola
Te amo Espanhola
Se for chorar
Te amo

Te amo Espanhola
Te amo Espanhola
Pra quê chorar
Te amo

 

Sá e Guarabira

Clic no link para ver o vídeo

https://www.youtube.com/watch?v=aV3CVZsE5_g

 

essa paz não me interessa

 

as letras dançam na retina vertigem delírio alucinações  íris dandara a carne de segunda nesta manhã/domingo  descasco ovas de guaiamuns encarceradas onde a barra fede recife marés e rios de promessas argamassas no abstrato que não se concreta mesmo fosse essa jura em linha reta meu coração não é balcão de negócios nem recipiente para pílulas de auto/ajuda meu coração  vadio leviano um tanto quase enganador  anda sempre no cio até sangrar o amor da caça quando se teima em caçador  por tanta sede fome  no desejo de  matar

 

Federika Bezerra

www.fulinaimatupiniquim.blogspot.com



esta noite  vou roubar tua boca e falar por entre teus dentes e língua  me apossar do teu silêncio da tua alma  do teu corpo antes do amanhecer já te terei em mim em cada músculo ainda vivo em cada poro entre teus pelos minha língua os meus dentes minhas unhas nada ficará em teu corpo  que não seja eu em cada coisa que o instante é  eu quero estar em tua coisa já

 

Federika Lispetor

www.suorecio.blogspot.com



FAÇA SOL OU FAÇA TEMPESTADE

 

faça sol ou faça tempestade,
meu corpo é fechado
por esta pele negra.

 

faça sol ou faça tempestade,
meu corpo é cercado
por estes muros altos,

 currais
onde ainda se coagula
o sangue dos escravos.

 

faça sol
ou faça tempestade,
meu corpo é fechado
por esta pele negra.

 

Adão Ventura

Do livro A Cor Da Pele





 Fanatismo

 

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver !
Não és sequer a razão do meu viver, 
Pois que tu és já toda a minha vida !

 

Não vejo nada assim enlouquecida ...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida !

 

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa ..."
Quando me dizem isto, toda a graça 
Duma boca divina fala em mim !

 

E, olhos postos em ti, digo de rastros :
"Ah ! Podem voar mundos, morrer astros, 
Que tu és como Deus : Princípio e Fim ! ..."

 

Florbela Espanca




 

Fulinaíma MultiProjetos

www.centrodeartefulinaima.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

incorporação

incorporação para Igor Fagundes esse poema bárbaro com fonema brazilírico vai fazer meu aramaico incorporar o seu delírico palavras ...