quarta-feira, 3 de setembro de 2025

quem me dera fosse

         quem me dera fosse

florbela ou coisa parecida

estivesse

onde tu estejas

arriscaria muito mais que um beijo

pois que os meus desejos

são bem maiores

que uma flor de lotus

muito mais que flor de lírios

pois que os meus delírios

cabem muito mais que uma cama

quem ama sabe

quão profundo é o que sinto

 

Rúbia Querubim 


terça-feira, 2 de setembro de 2025

freudelíricos

o dia passa
a noite passa
poesia passa
passagem passa
cerveja passa
conhac passa
música passa
poema passa
desejo passa
paisagem passa
vinho passa
a uva passa
a vida passa
a viagem continua

Artur Gomes
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O Poeta Enquanto Coisa, de Artur Gomes -  lançado em 2020 pela Litteralux com prefácio de Igor Fagundes, tem relançamentos dia 3 de dezembro 19h, na Balbúrdia Poética 4,  Patuscada, Livraria Café & Bar – Rua Luís Murat, 40 – São Paulo-SP e dia 7 de dezembro no Saralpha - Alpharrabio, Santo André-SP

Artur Gomes – assinatura por vir, heteronímica, heteromórfica – assim apresenta em O poeta enquanto coisa suas juras não mais secretas, mas públicas, ainda púbicas, aos afetos que compõem e decompõem sua literaturavida. Seus versos são rascunhos, rasuras e ranhuras a passar a limpo os nexos e os nervos de sua fatura formal e estilística, deixando sobre a página tanto um rastro de unha quanto o esmalte dos escritos e vozes que em sua alma avultam e nos dedos instauram cutículas.  

Fragmento do prefácio de Igor Fagundes, doutor em Letras pela UFRJ, autor os livros Pensamento Dança, Macumbança e do recém lançado Santo. 

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DIAMANTE 

O amor seria fogo ou ar

em movimento, chama ao vento;

e no entanto é tão duro amar

este amor que o seu elemento

deve ser terra: diamante,

já que dura e fura e tortura

e fica tanto mais brilhante

quanto mais se atrita, e fulgura,

ao que parece, para sempre:

e às vezes volta a ser carvão

a rutilar incandescente

onde é mais funda a escuridão;

e volta indecente esplendor

e loucura e tesão e dor.


Guardar:

“Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.

Em cofre não / se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. / Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto / é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. / Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, / velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela / ou ser por ela. / Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro / Do que pássaros sem voos. / Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se / declara e declama um poema: / Para guardá-lo: / Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda: / Guarde o que quer que guarda um poema: / Por isso o lance do poema: / Por guardar-se o que se quer guardar.”

 

“O FIM DA VIDA

 

Conhece da humana lida

a sorte:

O único fim da vida

é a morte

e não há, depois da morte,

mais nada.

Eis o que torna esta vida

sagrada:

Ela é tudo e o resto, nada.”

 

Antônio Cícero

 

INVERNO

Antônio Cícero musicado e gravado por Adriana Calcanhoto

 

No dia em que fui mais feliz

Eu vi um avião

Se espelhar no seu olhar até sumir

De lá pra cá não sei

Caminho ao longo do canal

Faço longas cartas pra ninguém

E o inverno no Leblon é quase glacial

Há algo que jamais se esclareceu

Onde foi exatamente que larguei

Naquele dia mesmo

O leão que sempre cavalguei

Lá mesmo esqueci que o destino

Sempre me quis só

no deserto sem saudade, sem remorso só

Sem amarras, barco embriagado ao mar

Não sei o que em mim

Só quer me lembrar

Que um dia o céu

reuniu-se à terra um instante por nós dois

pouco antes do ocidente se assombrar.


Antônio Cícero

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e ela vai pintando

 o homem com a flor na boca

 com seus pincéis de aquarela

 poema que só é possível

pelas lentes dos olhos dela

 

Artur Gomes

poema do livro

O Homem Com A Flor Na Boca

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*

tudo bem meu bem se o pastor foi pra portugal atrás de uma sofia deixa ele com sua vã filosofia porque já me despi dos outros panos se não me engano estou de novos planos para a pele que me cobre o esqueleto roberta agora só se for cainelle bruna só se for polleto a música que ouço agora vem da endiabrada flauta do hermeto 

          MOENDA

 

usina

mói a cana

o caldo e o bagaço

 

usina

mói o braço

a carne o osso

 

usina

mói o sangue

a fruta e o caroço

 

tritura suga torce

dos pés até o pescoço

 

e do alto da casa grande

os donos do engenho controlam

:

o saldo e o lucro

 

Artur Gomes

dos livros - Suor & Cio - 1985

e Pátria A(r)mada - Editora Desconcertos – 2019 – Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio 2020 – 2ª Edição – 2022

Fulinaíma MultiProjetos

fulinaima@gmail.com

22 99815-1268 – zap

@fulinaima @artur.gumes 


                              metáfora

 

meta dentro meta fora

que a meta desse trem agora

 é seta nesse tempo duro

meta palavra reta

 para abrir qualquer trincheira

na carne seca do futuro

meta dentro dessa meta

a chama da lamparina

com facho de fogo na retina

 pra clarear o fosso escuro

 

Artur Gomes

Poema do livro Pátria A(r)mada

Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio- 2020 - Desconcertos Editora –

2ª Edição 2022

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Artur Gomes – FULINAIMAGENS

o cu do mundo onde fica?

minha língua afiada

onde enfiá-la?

 

fulinaimagem

metáfora nua na janela

meter a língua na linguagem dela

 

despir a musa

rasgar o vestido

a calça a blusa

despetalá-la

deixá-la lua

em carne viva nua e crua

 

palácio do planalto alvorada

o cu profundo o submundo

cu do boi

de um país que foi

 

contei duas estrelas

do outro lado do muro

uma era baudelaire

a outra luiz melodia

se eu fosse zeca baleiro

bolero blues cantaria

 

Artur Gomes

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o poema freudelérico

não tem nada de pessoa

na vitrola rola um demônios da garoa

e o poema mete a língua no avesso da linguagem rasga os tecidos da mortalha

assombrado com o verbo desemprego

afia ainda mais a carnavalha

com sua faca de dois gumes

no descompasso do desassossego

 

Federico Baudelaire

www.personasarturianas.blospot.com

 

era uma vez um mangue

e por onde andará macunaíma

      na sua carne no seu sangue

               na medula no seu osso

ainda existe algum

vestígio de macunaíma

na veia do seu pescoço

 

por onde andará macunaíma

nos porões das oficinas

nos balcões de supermercados

na linguagem fulinaíma

nas florestas de Roraima

no eldorado pindorama

ou na anti tese de mestrado 

na teoria dos mistérios

nas covas dos cemitérios

desse brasil desossado ?

 

macunaíma não me engana

bebeu água do paraíba

nos porão dos satanazes

está nos corpos incinerados

na usina de cambaíba

em campos dos goytacazes

 

macunaíma não me engana

está nas carcaças desovadas

na praia de manguinhos

em são francisco do itabapoana

mar de búzios

mel de ostras

minha cabeça parafuso


no fundo da xícara

na borra do café teu nome

o sobrenome na asa

a brasa morde meus dias

de outono quente

e as noites que dormi na tua casa

um pássaro canta na janela

quando toco tua coxa

Florbela não soube me dizer

porque vaza sob meus pés

um rio das ostras


quem passou a língua

mas coxas da Caipora?

me pergunta Federico Baudelaire

cheirando as Flores d0  Mal

no Sarau de EuGênio Mallarmè

 

Gigi então invoca

a Dona Santa Federika

que baixa na mesma hora

 

- ora bolas fui eu

com minha língua de faca

cortei a cara da vaca

a começar pelas coxas

depois subi pelo corpo

até o buraco da boca

e meti a língua na língua

 

e na suruba das línguas

a dela mordendo a minha

a minha mordendo a dela

a Arte então se revela

não existe Arte sem língua

nem Teatro sem linguagem

a Arte é uma grande suruba

e o resto mais é paisagem


foto.grafia

no meu olho gótico

a estética do desejo

em tudo enquanto te vejo

em tudo quanto te beijo

em tudo quanto te lambro

em tudo quando te lembro

em tudo quando te limbro

em tudo quanto de lombro

em tudo quando te lumbro

 

onde não há sentido

procuro significado

dessa coisa enquanto coisa

dessa coisa ter ficado

no olho do olho do olho

do centro do colo do presente

coisa que jamais será passado


não sou iluminista nem pretender 
eu quero o cravo e a rosa 
cumer o verso e a prosa 
devorar a lírica a métrica 
a carne da musa 
seja branca negra amarela 
vermelha verde ou cafuza 

eu sou do mato 
curupira carrapato 
sou da febre sou dos ossos 
sou da Lira do Delírio 
São Virgílio é o meu sócio 

Pernambuco Amaralina 
vida breve ou sempre vida/severina 
sendo mulher ou só menina 
que sendo santa prostituta 
ou cafetina devorar é minha sina 
e profanar é o meu negócio 

atravesso avesso

aos tipos de academias

no inverso

vou fazendo as travessias

afiando as contas da agonia

me perdi do endereço

 

eu fervo porque ela dança

na chama do fogo ao vento

dentro de mim moram

pelos menos 13

querubins em movimento

 

fosse o que eu quisesse

apenas um beijo roubado em tua boca

dentro do poema nada cabe

bem o que sei nem o que não se sabe

 

e o que não soubesse

do que foi escrito

está cravado em nós

como cicatriz no corte

entre uma palavra e outra

do que não dissesse

 

quixaba uma palavra estranha
assim como katchup guanabara guaxindiba
guarapari lembra-me índio capixaba
goiaba carne vermelha
teu corpo nu diante do espelho
página do livro onde te grafitei
em couro cru & carne viva
alga marinha nascida em mar de angra
a flor da pele ainda sangra
como último beijo mordido na boca
sem sinal de despedida 

Artur Gomes

fulinaimagem poema freudelérico



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quem me dera fosse

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