o dia passa
a noite passa
poesia passa
passagem passa
cerveja passa
conhac passa
música passa
poema passa
desejo passa
paisagem passa
vinho passa
a uva passa
a vida passa
a viagem continua
Artur Gomes
leia mais no blog
https://fulinaimagens.blogspot.com/

O Poeta Enquanto Coisa, de Artur Gomes - lançado em 2020 pela Litteralux com prefácio de Igor Fagundes, tem relançamentos dia 3 de dezembro 19h, na Balbúrdia Poética 4, Patuscada, Livraria Café & Bar – Rua Luís Murat, 40 – São Paulo-SP e dia 7 de dezembro no Saralpha - Alpharrabio, Santo André-SP
Artur Gomes – assinatura por vir, heteronímica, heteromórfica – assim apresenta em O poeta enquanto coisa suas juras não mais secretas, mas públicas, ainda púbicas, aos afetos que compõem e decompõem sua literaturavida. Seus versos são rascunhos, rasuras e ranhuras a passar a limpo os nexos e os nervos de sua fatura formal e estilística, deixando sobre a página tanto um rastro de unha quanto o esmalte dos escritos e vozes que em sua alma avultam e nos dedos instauram cutículas.
Fragmento do prefácio de Igor Fagundes, doutor em Letras pela UFRJ, autor os livros Pensamento Dança, Macumbança e do recém lançado Santo.
leia mais no blog
https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/
DIAMANTE
O amor seria fogo ou ar
em movimento, chama ao vento;
e no entanto é tão duro amar
este amor que o seu elemento
deve ser terra: diamante,
já que dura e fura e tortura
e fica tanto mais brilhante
quanto mais se atrita, e fulgura,
ao que parece, para sempre:
e às vezes volta a ser carvão
a rutilar incandescente
onde é mais funda a escuridão;
e volta indecente esplendor
e loucura e tesão e dor.
Guardar:
“Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não / se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. / Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto / é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. / Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, / velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela / ou ser por ela. / Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro / Do que pássaros sem voos. / Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se / declara e declama um poema: / Para guardá-lo: / Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda: / Guarde o que quer que guarda um poema: / Por isso o lance do poema: / Por guardar-se o que se quer guardar.”
“O FIM DA VIDA
Conhece da humana lida
a sorte:
O único fim da vida
é a morte
e não há, depois da morte,
mais nada.
Eis o que torna esta vida
sagrada:
Ela é tudo e o resto, nada.”
Antônio Cícero
INVERNO
Antônio Cícero musicado e gravado por Adriana Calcanhoto
No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém
E o inverno no Leblon é quase glacial
Há algo que jamais se esclareceu
Onde foi exatamente que larguei
Naquele dia mesmo
O leão que sempre cavalguei
Lá mesmo esqueci que o destino
Sempre me quis só
no deserto sem saudade, sem remorso só
Sem amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
Só quer me lembrar
Que um dia o céu
reuniu-se à terra um instante por nós dois
pouco antes do ocidente se assombrar.
Antônio Cícero
leia mais no blog
https://fulinaimagens.blogspot.com/

e ela vai pintando
o homem com a flor na boca
com seus pincéis de aquarela
poema que só é possível
pelas lentes dos olhos dela
Artur Gomes
poema do livro
O Homem Com A Flor Na Boca
leia mais no blog
https://arturgumes.blogspot.com/
*

tudo bem meu bem se o pastor foi pra portugal atrás de uma sofia deixa ele com sua vã filosofia porque já me despi dos outros panos se não me engano estou de novos planos para a pele que me cobre o esqueleto roberta agora só se for cainelle bruna só se for polleto a música que ouço agora vem da endiabrada flauta do hermeto

MOENDA
usina
mói a cana
o caldo e o bagaço
usina
mói o braço
a carne o osso
usina
mói o sangue
a fruta e o caroço
tritura suga torce
dos pés até o pescoço
e do alto da casa grande
os donos do engenho controlam
:
o saldo e o lucro
Artur Gomes
dos livros - Suor & Cio - 1985
e Pátria A(r)mada - Editora Desconcertos – 2019 – Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio 2020 – 2ª Edição – 2022
Fulinaíma MultiProjetos
fulinaima@gmail.com
22 99815-1268 – zap
@fulinaima @artur.gumes

metáfora
meta dentro meta fora
que a meta desse trem agora
é seta nesse tempo duro
meta palavra reta
para abrir qualquer trincheira
na carne seca do futuro
meta dentro dessa meta
a chama da lamparina
com facho de fogo na retina
pra clarear o fosso escuro
Artur Gomes
Poema do livro Pátria A(r)mada
Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio- 2020 - Desconcertos Editora –
2ª Edição 2022
Fulinaíma MultiProjetos
22 99815-1268 – zap
fulinaima@gmail.com
@fulinaima @artur.gumes
leia mais no blog
Artur Gomes – FULINAIMAGENS

o cu do mundo onde fica?
minha língua afiada
onde enfiá-la?

fulinaimagem
metáfora nua na janela
meter a língua na linguagem dela
despir a musa
rasgar o vestido
a calça a blusa
despetalá-la
deixá-la lua
em carne viva nua e crua
palácio do planalto alvorada
o cu profundo o submundo
cu do boi
de um país que foi
contei duas estrelas
do outro lado do muro
uma era baudelaire
a outra luiz melodia
se eu fosse zeca baleiro
bolero blues cantaria
Artur Gomes
www.fulinaimagens.blogspot.com
o poema freudelérico
não tem nada de pessoa
na vitrola rola um demônios da garoa
e o poema mete a língua no avesso da linguagem rasga os tecidos da mortalha
assombrado com o verbo desemprego
afia ainda mais a carnavalha
com sua faca de dois gumes
no descompasso do desassossego
Federico Baudelaire
www.personasarturianas.blospot.com
era uma vez um mangue
e por onde andará macunaíma
na sua carne no seu sangue
na medula no seu osso
ainda existe algum
vestígio de macunaíma
na veia do seu pescoço
por onde andará macunaíma
nos porões das oficinas
nos balcões de supermercados
na linguagem fulinaíma
nas florestas de Roraima
no eldorado pindorama
ou na anti tese de mestrado
na teoria dos mistérios
nas covas dos cemitérios
desse brasil desossado ?
macunaíma não me engana
bebeu água do paraíba
nos porão dos satanazes
está nos corpos incinerados
na usina de cambaíba
em campos dos goytacazes
macunaíma não me engana
está nas carcaças desovadas
na praia de manguinhos
em são francisco do itabapoana
mar de búzios
mel de ostras
minha cabeça parafuso
no fundo da xícara
na borra do café teu nome
o sobrenome na asa
a brasa morde meus dias
de outono quente
e as noites que dormi na tua casa
um pássaro canta na janela
quando toco tua coxa
Florbela não soube me dizer
porque vaza sob meus pés
um rio das ostras
quem passou a língua
mas coxas da Caipora?
me pergunta Federico Baudelaire
cheirando as Flores d0 Mal
no Sarau de EuGênio Mallarmè
Gigi então invoca
a Dona Santa Federika
que baixa na mesma hora
- ora bolas fui eu
com minha língua de faca
cortei a cara da vaca
a começar pelas coxas
depois subi pelo corpo
até o buraco da boca
e meti a língua na língua
e na suruba das línguas
a dela mordendo a minha
a minha mordendo a dela
a Arte então se revela
não existe Arte sem língua
nem Teatro sem linguagem
a Arte é uma grande suruba
e o resto mais é paisagem
foto.grafia
no meu olho gótico
a estética do desejo
em tudo enquanto te vejo
em tudo quanto te beijo
em tudo quanto te lambro
em tudo quando te lembro
em tudo quando te limbro
em tudo quanto de lombro
em tudo quando te lumbro
onde não há sentido
procuro significado
dessa coisa enquanto coisa
dessa coisa ter ficado
no olho do olho do olho
do centro do colo do presente
coisa que jamais será passado
não sou iluminista nem pretender
eu quero o cravo e a rosa
cumer o verso e a prosa
devorar a lírica a métrica
a carne da musa
seja branca negra amarela
vermelha verde ou cafuza
eu sou do mato curupira carrapato sou da febre sou dos ossos sou da Lira do Delírio São Virgílio é o meu sócio Pernambuco Amaralina vida breve ou sempre vida/severina sendo mulher ou só menina que sendo santa prostituta ou cafetina devorar é minha sina e profanar é o meu negócio
atravesso avesso
aos tipos de academias
no inverso
vou fazendo as travessias
afiando as contas da agonia
me perdi do endereço
eu fervo porque ela dança
na chama do fogo ao vento
dentro de mim moram
pelos menos 13
querubins em movimento
fosse o que eu quisesse
apenas um beijo roubado em tua boca
dentro do poema nada cabe
bem o que sei nem o que não se sabe
e o que não soubesse
do que foi escrito
está cravado em nós
como cicatriz no corte
entre uma palavra e outra
do que não dissesse
quixaba uma palavra estranha
assim como katchup guanabara guaxindiba
guarapari lembra-me índio capixaba
goiaba carne vermelha
teu corpo nu diante do espelho
página do livro onde te grafitei
em couro cru & carne viva
alga marinha nascida em mar de angra
a flor da pele ainda sangra
como último beijo mordido na boca
sem sinal de despedida
Artur Gomes
fulinaimagem poema freudelérico
Fulinaíma MultiProjetos
www.centrodeartefulinaima.blogspot.com